segunda-feira, 18 de março de 2013

O Brasão de Sua Santidade Papa Francisco


Desde os tempos medievais, os brasões tornaram-se de uso comum para os guerreiros e para a nobreza, e por conseguinte foi-se desenvolvendo uma linguagem bem articulada que regula e descreve a heráldica civil. Paralelamente, também para o clero se formou uma heráldica eclesiástica. Ela segue as regras da civil para a composição e a definição do escudo, mas coloca em redor símbolos de insígnias de carácter eclesiástico e religioso, segundo os graus da Ordem sacra, da jurisdição e da dignidade. É tradição, pelo menos de há oito séculos para cá, que também os Papas tenham um seu brasão pessoal, além dos simbolismos próprios da Sé Apostólica. Particularmente no Renascimento e nos séculos seguintes, era costume decorar com o brasão do Sumo Pontífice felizmente reinante todas as principais obras por ele executadas. Brasões papais aparecem de facto nas obras de arquitectura, em publicações, em decretos e documentos de vários tipos.

Com frequência os Papas adoptavam o escudo da própria família, se existia, ou então compunham um escudo com simbolismos que indicavam um próprio ideal de vida, ou uma referência a factos ou experiências passadas, ou a elementos relacionados com um próprio programa de pontificado. Por vezes acrescentavam algumas variantes ao escudo que tinham adoptado como Bispos. Também o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, eleito Papa e assumindo o nome de Francisco, escolheu um brasão rico de simbolismos e de significados, para confiar à história a sua personalidade e o seu Pontificado.

Como se sabe, um brasão é composto por um escudo que tem alguns símbolos significativos e é circundado por elementos, que indicam a dignidade, o grau, o título, a jurisdição, etc. 

Nos traços, essenciais, o Papa Francisco decidiu manter seu brasão anterior, escolhido desde sua consagração episcopal e caracterizado por uma simples linearidade.

O escudo azul é coberto por símbolos da dignidade pontifícia, iguais aqueles de Bento XVI (mitra posicionada entre chaves de ouro e prata entrecruzadas, unidas por um cordão vermelho). No alto, está o emblema da ordem de proveniência do Papa, a Companhia de Jesus: um sol radiande e flamejante carregado com as letras, em vermelho, IHS, monograma de Cristo. A letra H é coberta por uma cruz em ponta e três pregos em preto.

Abaixo encontram-se a estrela e a flor de nardo (cacho de uva). A estrela, de acordo com a antiga tradição araldica, simboliza a Virgem Maria, mãe de Cristo e da Igreja; enquanto a flor de nardo (cacho de uva) indica São José, patrono da Igreja. Na tradição da iconografia hispânica, de fato, São José é representado com um ramo de nardo nas mãos. Colocando no seu escudo tais imagens, o Papa pretendeu exprimir a própria particular devoção à Virgem Santíssima e São José.

O escudo tem no seu interior como descrevemos as simbologias ligadas à pessoa que com ele se distingue, aos seus ideais, tradições, programas de vida e aos princípios que o inspiram e guiam. Os vários símbolos do grau, da dignidade e da jurisdição do indivíduo estão colocados em volta do escudo. É tradição, desde tempos imemoráveis, que o Sumo Pontífice tenha no seu brasão, em volta do escudo, as duas chaves "decussadas" (ou seja, colocadas em forma de cruz de Santo André), uma de ouro e a outra de prata: interpretadas por vários autores como símbolos do poder espiritual e do poder temporal. Elas estão colocadas atrás do escudo, ou acima dele, afirmando-se com certa evidência. O Evangelho de Mateus narra que Cristo dissera a Pedro: "Dar-te-ei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra, será desligado no céu" (cap. 16, v. 19). Por conseguinte, as chaves são o símbolo típico do poder dado por Cristo a São Pedro e aos seus sucessores. Portanto, elas encontram-se justamente em cada brasão papal. 

Na heráldica civil existe sempre em cima do escudo um ornamento para a cabeça, normalmente uma coroa. Também na heráldica eclesiástica acontece o mesmo, evidentemente de tipo eclesiástico. No caso do Sumo Pontífice desde os tempos antigos representa-se uma "tiara". No início, ela era um tipo de "barrete" fechado. Em 1130 foi acompanhado por uma coroa, símbolo de soberania sobre os Estados da Igreja. Bonifácio VIII, em 1301, acrescentou uma segunda coroa, na época do confronto com o Rei da França, Filipe, o Belo, para representar a sua autoridade espiritual superior à civil. Foi Bento XII, em 1342 que acrescentou uma terceira coroa para simbolizar a autoridade moral do Papa sobre todos os monarcas civis, e reafirmar a posse de Avinhão. Com o tempo, perdendo os seus significados de carácter temporal, a tiara de prata com as três coroas de ouro permaneceu para representar os três poderes do Sumo Pontífice: de Ordem sagrada, de Jurisdição e de Magistério. Nos últimos séculos, os Papas usaram a tiara nos pontificados solenes, e em particular no dia da "coroação", no início do seu pontificado. Paulo VI usou para tal função uma preciosa tiara que lhe fora oferecida pela Diocese de Milão, como já tinha feito para Pio XI, que depois a destinou para obras de beneficência e teve início o uso corrente de uma simples "mitra" (ou "mitria"), por vezes enriquecida com decorações ou gemas. Contudo ele deixou a "tiara" juntamente com as chaves decussadas como símbolo da Sé Apostólica.

Hoje a cerimónia com a qual o Sumo Pontífice inaugura solenemente o seu Pontificado já não se chama "coroação", como se dizia no passado. A plena jurisdição do Papa, de facto, inicia a partir do momento da sua aceitação da eleição feita pelos Cardeais em Conclave e não por uma coroação, como acontece com os monarcas civis. Por isso, essa cerimónia chama-se simplesmente solene início do seu Ministério Petrino, como acontecerá com o Papa Francisco no dia 19 de março de 2013.

Na heráldica geral, quer civil, quer eclesiástica (particularmente nos graus inferiores) é costume colocar por baixo do escudo um nastro, ou cartaz, que tem gravado um mote, ou distintivo. Ele contém numa só ou em poucas palavras um ideal, ou um programa de vida. O Cardeal Joseph Ratzinger tinha no seu brasão arquiepiscopal e cardinalício o mote: "Cooperatores Veritatis". Ele permanece como sua aspiração e programa pessoal, mas não está no brasão papal, segundo a comum tradição dos brasões dos Sumos Pontífices nos últimos séculos. Todos recordamos como João Paulo II citava com frequência o mote "Totus tuus", mesmo se não estava no seu brasão papal. A falta de um mote no brasão papal não significa falta de um programa, mas simplesmente abertura sem exclusões a todos os ideais que derivam da fé, da esperança e da caridade. Já o Papa Francisco colocou em seu Brasão Papal o mote, qual seja, "Miserando Atque Eligendo", que significa "Olhou com misericórdia e o escolheu".


Jesus Misericordioso, tende piedade de nós e do mundo inteiro!

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