Ontem (quarta-feira de cinzas) eu participei da Santa Missa Tridentina (ou Gregoriana) aqui em Brasília (DF). Segue as palavras do Padre Daniel sobre como vivenciar o tempo quaresmal.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Estamos hoje na quarta-feira de cinzas,
primeiro dia da Quaresma. Dia de jejum e abstinência. Abstinência é não
comer carne, obrigando todos os fiéis católicos, a partir dos 14 anos.
Jejum é fazer uma refeição normal, em geral o almoço, e duas colações,
uma de manhã e uma de tarde, que, juntas, não cheguem a uma refeição
normal. E não se deve comer nada entre as refeições. Todos os católicos
entre dezoito e sessenta anos estão obrigados ao jejum, a não ser por
motivo de saúde, ou por trabalho mais duro, ou uma mulher pela gravidez,
por exemplo.
Recomendo muito, prezados católicos, que
escolham um bom livro para acompanhá-los durante a quaresma. O livro de
Santo Afonso sobre a Paixão, por exemplo, ou as meditações diárias do
mesmo santo, a Prática do Amor a Jesus Cristo ainda de Santo Afonso;
Filotéia de São Francisco de Sales, ou o Combate Espiritual, do Padre
Scupoli, os Exercícios de Perfeição Cristã do Padre Rodrigues, ou uma
boa Vida de Cristo. Algo que possa elevar a alma nesse tempo santo.
“Memento, homo, quia pulvis est et in pulverem reverteris.”
Lembra-te, ó homem, que és pó e que ao pó retornarás.”
É com essa frase que a Igreja quer que
nossa fronte seja marcada pelas cinzas. Lembra-te, ó homem, que és pó e
que ao pó retornarás. A Igreja, nesse início de Quaresma, coloca diante
do homem a sua mortalidade. Ela nos lembra que a morte vem para todos,
indistintamente. Essa é a grande certeza de todos os homens: a morte,
morreremos um dia. Todavia, a morte certa tem também uma incerteza: não
sabemos nem o dia nem a hora. Portanto, caros, católicos, sabemos que
iremos morrer, mas não sabemos quando. A grande ilusão é crer que temos
ainda muito tempo para nos arrepender, para chorar pelos nossos pecados,
para avançar na virtude, para nos converter. Como nos lembra o Livro de
Esther em uma das Antífonas de hoje: emendemo-nos para melhor, para que
não suceda que, surpreendidos pela morte, procuremos espaço para fazer
penitência e não o encontremos. É aqui e agora que devemos nos
converter.
O tempo da Quaresma é um tempo de grandes
graças, se procuramos vivê-lo bem, isto é, se procuramos realmente nos
converter a Deus, para amá-lo e servi-lo como nosso infinito bem que é.
Não podemos desperdiçar esse tempo de graça. É preciso aproveitá-lo,
para que não suceda que, surpreendidos pela morte, procuremos espaço
para nos converter e não o encontremos.
Na Quaresma, prezados católicos, nossas
práticas devem ter dois aspectos. Um deles se refere, digamos, ao
passado: nossas práticas quaresmais devem ter como finalidade a
expiação, a penitência, pelos nossos pecados cometidos. O outro aspecto
diz respeito ao presente: nossas práticas quaresmais devem ter como
finalidade nosso avanço na virtude, no amor a Deus, no abandono de
nossos pecados presentes. A Quaresma é tempo de grandes graças para
obter a misericórdia divina, para abandonar o velho homem, para
abandonar o nosso pecado habitual, dominante. Assim, prezados católicos,
nossas práticas não devem ser simplesmente práticas mais ou menos
austeras, mas devem ter por finalidade o pedir perdão a Deus e o avanço
no caminho do amor a Deus. Como nos diz o Profeta Joel: Convertei-vos a
mim de todo o vosso coração, com jejuns, com lágrimas e com gemidos. É
preciso nos converter a Deus de todo o coração, orientando-nos para Ele,
inteiramente, colocando-o como o fim de nossas vidas. É preciso nos
converter a Deus com jejuns, reparando pelos nossos pecados. É preciso
nos converter a Deus com lágrimas e gemidos, isto é, com verdadeiro
arrependimento por tê-los cometidos e com o firme propósito de não mais
pecar. O tempo da quaresma é um tempo de graça. É tempo de uma boa
confissão, sincera, humilde, integral.
Nossas práticas quaresmais, caros
católicos, devem ser feitas com humildade. Devemos ter plena consciência
de que não são nada diante de Deus e diante do que Lhe é devido, por
mais que essas práticas pareçam muito perfeitas. Se nas nossas devoções,
se na nossa prática religiosa entra o orgulho, tudo será prejudicado.
Devemos, então, ficar atentos, e fazê-las com humildade, como algo que é
simplesmente devido a Deus e que é nada diante do que deveríamos fazer
por Ele. A recompensa das nossas práticas quaresmais não pode ser a
nossa satisfação própria ou o elogio alheio, mas deve ser a vida eterna.
Nossas práticas terminarão sendo mais ou menos conhecidas pelas pessoas
que nos são próximas, mas devemos sempre endireitar nossa intenção:
faço isso para Deus e não para que as outras pessoas me estimem.
A quaresma é um tempo de graça. A primeira graça está nas palavras: Memento, homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris
(lembra-te, ó homem, que és pó e que ao pó retornarás). Devemos guardar
essas palavras durante toda a nossa vida. Somos pó, e pó é tudo que há
sobre a terra. Vamos morrer, caros católicos. Não sabemos quando. É
preciso estar pronto. Deus nos dá esse tempo favorável, o tempo da
quaresma, tempo em que é extremamente largo em sua misericórdia. Na
quaresma, Deus bate de modo particular na porta de nossa alma. A nós,
cabe abrir a porta. Cabe-nos abrir a porta pela conversão a Ele, de todo
o coração. Cabe-nos abrir essa porta pelas súplicas de nossas orações
redobradas durante a quaresma. Cabe-nos abrir essa porta pela prática da
virtude. Cabe-nos abrir essa porta pela mortificação. Tendo escolhido
nossas práticas quaresmais, mantenhamo-nos firmes. Se falharmos uma vez
ou outra, peçamos o auxílio da graça e retomemos nossas resoluções, sem
abandoná-las. Abramos a porta ao divino Salvador. Ele não vai bater
eternamente.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Fonte: Missa Tridentina em Brasília
Nossa Senhora da Anunciação, rogai por nós!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentário sujeito a moderação.
Perguntas podem ser respondidas em novas postagens, para saber, clique no Marcador: "Respostas"
Que Deus os abençõe.
Obrigada