Essa foi a pergunta que rondou a cabeça de todas as pessoas no mundo inteiro, independente de serem ou não católicas, na segunda-feira, dia 11 de fevereiro de 2013, quando o Papa Bento XVI anunciou que iria renunciar ao Trono de Pedro.
Apesar de não ser algo comum, o Papa, assim como o Bispo, pode sim renunciar ao papado, conforme podemos constatar no Código de Direito Canônico de 1983.
E o que o CDC fala? Ao tratar sobre a Constituição Hierárquica da Igreja e do Romano Pontífice no Cân 332 o CDC nos ensina:
"Cân 332
Parágrafo 1. O Romano Pontífice obtém o poder pleno e supremo na Igreja pela eleição legítima por ele aceita, junto com a consagração episcopal. Por conseguinte, o eleito para o sumo pontificado, que já tiver o caráter episcopal, obtém esse poder desde o instante da aceitação. Se o eleito não tiver caráter episcopal, seja imediatamente ordenado Bispo.
Parágrafo 2. Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie a seu múnus, para a validade se requer que a renúncia seja livremente feita e devidamente manifestada, mas não que seja aceita por alguém."
Aqui estão as palavras do Papa Bento XVI ao renunciar ao Papado:
Caríssimos Irmãos,
"Convoquei-vos
para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas
também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida
da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência
diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à
idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o
ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela
sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as
palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo
de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande
relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e
anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do
espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo
em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar
bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da
gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao
ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado
pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28
de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São
Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal
compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
Caríssimos
Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a
fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço
perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à
solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a
Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os
Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz
respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com
uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus".
Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013.
Bento XVI
Para ver o vídeo do momento da renúncia feito em latim CLIQUE AQUI.
Após o anúncio da renúncia o pe. Paulo Ricardo manifestou-se tentando responder a pergunta que o mundo se faz:
Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior
Diocese de Cuiabá
Padre Paulo Ricardo, Arquidiocese de Cuiabá
"Non prævalebunt!
Na
manhã deste dia 11 de fevereiro, memória de Nossa Senhora de Lourdes,
fomos colhidos pela notícia espantosa de que o Santo Padre, o Papa Bento
XVI, renunciou ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro.
Em
discurso ao Consistório dos Cardeais reunidos diante dele, o Papa
declarou que o faz "bem consciente da gravidade deste ato" e "com plena
liberdade".
É evidente que a renúncia de um Papa é algo inaudito nos tempos modernos. A última renúncia foi de Gregório XII em 1415. A
notícia nos deixa a todos perplexos e com um grande sentimento de
perda. Mas este sentimento é um bom sinal. É sinal de que amamos o Papa,
e, porque o amamos, estamos chocados com a sua decisão.
Diante
da novidade do gesto, no entanto, já começam a surgir teorias fabulosas
de que o Papa estaria renunciando por causa das dificuldades de seu
pontificado ou que até mesmo estaria sofrendo pressões não se sabe de
que espécie.
O fato, porém, é que, conhecendo a
personalidade e o pensamento de Bento XVI, nada nos autoriza a arriscar
esta hipótese. No seu livro Luz do mundo (p. 48-49), o Santo
Padre já previa esta possibilidade da renúncia. Durante a entrevista, o
Santo Padre falava com o jornalista Peter Seewald a respeito dos
escândalos de pedofilia e as pressões:
"Pergunta: Pensou, alguma vez, em pedir demissão?
Resposta:
Quando o perigo é grande, não é possível escapar. Eis por que este,
certamente, não é o momento de demitir-se. Precisamente em momentos como
estes é que se faz necessário resistir e superar as situações difíceis.
Este é o meu pensamento. É possível demitir-se em um momento de
serenidade, ou quando simplesmente já não se aguenta. Não é possível,
porém, fugir justamente no momento do perigo e dizer: "Que outro cuide
disso!"
Pergunta: Por conseguinte, é imaginável uma situação na qual o senhor considere oportuno que o Papa se demita?
Resposta:
Sim. Quando um Papa chega à clara consciência de já não se encontrar em
condições físicas, mentais e espirituais de exercer o encargo que lhe
foi confiado, então tem o direito – e, em algumas circunstâncias, também
o dever – de pedir demissão.Ou seja, o próprio Papa reconhece
que a renúncia diante de crises e pressões seria uma imoralidade. Seria a
fuga do pastor e o abandono das ovelhas, como ele sabiamente nos
exortava em sua homilia de início de ministério: "Rezai por mim, para
que eu não fuja, por receio, diante dos lobos" (24/04/2005)."
Se
hoje o Papa renuncia, podemos deduzir destas suas palavras
programáticas, é porque vê que seja um momento de serenidade, em que os
vagalhões das grandes crises parecem ter dado uma trégua, ao menos
temporária, à barca de Pedro.
Podemos também deduzir que o Santo Padre escolheu o timing mais oportuno para sua renúncia, considerando dois aspectos:
Ele
está plenamente lúcido. Seria realmente bastante inquietante que a
notícia da renúncia viesse num momento em que, por razões de senilidade
ou por alguma outra circunstância, pudéssemos legitimamente duvidar que o
Santo Padre não estivesse compos sui (dono de si).
Estamos no
início da quaresma. Com a quaresma a Igreja entra num grande retiro
espiritual e não há momento mais oportuno para prepararmos um conclave
através de nossas orações e sacrifícios espirituais. O novo Pontífice
irá inaugurar seu ministério na proximidade da Páscoa do Senhor.
Por
isto, apesar do grande sentimento de vazio e de perplexidade deste
momento solene de nossa história, nada nos autoriza moralmente a duvidar
do gesto do Santo Padre e nem deixar de depositar em Deus nossa
confiança.
Peçamos com a Virgem de Lourdes que o Senhor,
mais uma vez, derrame o dom do Espírito Santo sobre a sua Igreja e que o
Colégio dos Cardeais escolha com sabedoria um novo Vigário de Cristo.
Nosso
coração, cheio de gratidão pelo ministério de Bento XVI, gostaria que
esta notícia não fosse verdade. Mas, se confiamos no Papa até aqui,
porque agora negar-lhe a nossa confiança? Como filhos, nos vem a vontade
de dizer: "não se vá, não nos deixe, não nos abandone!"
Mas não
estamos sendo abandonados. A Igreja de Cristo permanecerá eternamente. O
que o gesto do Papa então pede de nós, é mais do que confiança. É fé!
Fé
naquelas palavras ditas por Nosso Senhor a São Pedro e a seus
sucessores: "As portas do inferno não prevalecerão!" (Mt 16, 18).
Estas palavras permanecem inabaláveis através dos séculos!"
Fonte: Canção Nova e Código de Direito Canônico
Nossa Senhora de Lourdes, olhai e intercedei por nós, pela Igreja!