Histórias de mulheres fortes e ousadas
Maya Santana, 50emais
Essa questão de pintar os cabelos ou aderir à onda dos cabelos
brancos que está aí é um assunto que falo bastante aqui no 50emais. Para
a maioria das mulheres, torna-se um drama na hora de decidir se vai
continuar pintando as madeixas ou deixar expostos os fios grisalhos. Boa
parte delas acredita que parar de usar tinta vai deixá-las com a
aparência de mais velhas. Encontrei na revista Donna estes depoimentos
de três mulheres que, ao contrário, se orgulham de ter assumido de vez a
cabeça prateada. Elas falam numa”sensação de libertação” e contam como
se sentem poderosas ao exibir seus fios ao natural.
Leia:
Diovar Papich: sempre achei um charme
A empresária aposentada Diovar Papich sempre foi daquelas mulheres
moderninhas, que não têm medo de ousar. “Tenho até um olho castanho e
outro verde”, brinca, sobre não ser nada convencional. Por isso, não
pensou duas vezes quando os fios brancos começaram a dar as caras.
– Sempre achei lindo, um charme! Mas ouvia dos outros que passava uma
imagem de relaxamento – recorda. – Quando assumi meus cabelos naturais,
foi terrível! Criticavam muito, me falavam que, se eu pintasse,
rejuvenesceria.
Mas os pitacos alheios, ainda bem, não influenciaram na decisão de
Diovar. Ela, que sempre detestou retocar a tinta a cada 15 dias, agora
não se vê “nunca mais” repetindo o ritual. De seus 62 anos, uma década
está livre de química – e contando!
– Foi uma libertação – assume. – Sempre fui de fazer o que quis, sempre gostei de ser um pouco rebelde.
E, quando você vê a mulher sorridente e cheia de caras e bocas ao lado, não tem como duvidar, não é?
– Quando olho no espelho, vejo uma pessoa feliz e linda, porque me acho bonita pelo que sou.
Simone Ávila pintava os cabelos desde 16 anos
Quando perguntada sobre por que abandonou o ritual de tintura mensal e
assumiu os cabelos brancos, a jornalista Simone Ávila não titubeia:
– Isso nos liberta dessas obrigações e quebra paradigmas por não
atender aos padrões de beleza. É libertador. Deixa de ser a ausência de
cor para se tornar uma postura de vida de se aceitar como se é.
Aos 47 anos, Simone pintava os cabelos desde os 16. Estava acostumada
à rotina de tonalizantes e tratamentos para hidratar os fios devido à
química, mas a falta de tempo e uma inspiração em especial a fizeram
mudar de ideia. Rodava a timeline do Facebook quando viu a foto de uma
amiga que não via há tempos – e que havia deixado os cabelos brancos
como são.
– Achei lindo! E pensei: “Por que não?” – recorda.
Hoje, diverte-se com as reações.
– Os homens não sabem o que você fez, as mulheres admiram a coragem –
conta. – É importante esse movimento de aceitação e é gostoso ver que
estou colaborando.
Ana Hoffmann: Eu me acho estilosa
Enquanto a maioria das mulheres só começa a perceber aqueles fios
brancos pouco antes de entrar na casa dos 30, Ana Hoffmann encontrou o
primeiro aos 12 anos. Com 15, já estava acostumada a arrancar cada um
que insistia em aparecer em meio às madeixas castanhas.
– Isso me diferenciava, e eu não me sentia confortável – lembra.
Aos 20, tonalizar o cabelo já havia virado rotina na vida da
professora de Moda da Feevale. De brancos, os fios ganharam tons de
roxo, cereja e quase ficaram loiros. Mas Ana por fim desistiu de manter
uma relação amigável com a tintura: decidida, começou seu processo de
transformação. Hoje, aos 37, está feliz da vida com seu cabelo grisalho –
e virou até inspiração para seus alunos, que apareceram na aula com os
fios acinzentados.
– Antes, era um problema. Hoje, me gabo mesmo, me acho estilosa.
Minha adolescência foi muito traumatizada, e foi um longo processo de
aceitação – conta. – Mas não nego que possa voltar a pintar no futuro,
porque enjoo fácil e não sei como será minha relação com os brancos
quando eu tiver 50 anos. Mas tenho certeza de que, independentemente da
escolha, acabaria voltando ao grisalho.
Aos 40 anos, Carol Heinen é naturalmente grisalha
Há quem se surpreenda quando Carol Heinen, 40 anos, comenta que seu grisalho é natural.
– Inclusive amigos, quando eu contei que iria participar deste ensaio – revela a designer.
Carol é daquelas que, como muitas de nós, nunca estiveram plenamente
satisfeitas com o próprio cabelo. Nasceu com os fios loirinhos, mas logo
ficaram acinzentados. Na adolescência, foi adepta do loiro amarelado,
que acabou virando um castanho à base de muita henna. Os muitos pilas
mensais gastos com salão começaram a pesar no orçamento quando ela
voltou a estudar. Então, decidiu: era hora de parar.
– Primeiro foi a questão da grana, e depois também aceitação – diz. –
Tem também isso de voltar à simplicidade. Não uso mais salto alto,
amamentei e meus peitos não são mais os mesmos. Mas sou como sou. Dou a
cara para bater, não quero ficar maquiando.
Embora esteja feliz com seus fios grisalhos e curtos – aprovados pela
filha Ana Clara, 17 anos -, a dúvida bate às vezes sobre voltar ou não a
pintar os fios.
– Às vezes, me questiono se não é cedo, ou se vale a pena mesmo –
reflete. – Mas aí penso que sou mais que o meu corpo ou o meu cabelo –
afirma.
Fernanda Davoglio: Envelhece um pouco, mas encaro numa boa
Foi às vésperas de seu aniversário de 47 anos que Fernanda Davoglio
decidiu: iria parar de pintar os cabelos. A mecha branca na franja, sua
marca registrada, ganhou mais destaque no salão – mas aquela seria a
última vez em que a fotógrafa se renderia às tinturas. Pelo menos até o
momento. Enquanto a cor das últimas químicas saía a cada lavagem, optou
por um visual mais curtinho – covencendo inclusive o marido, que
preferia até então a antiga versão.
– Ele achou que eu poderia não ficar bonita, mas depois gostou – conta Fernanda.
Acostumou-se a receber elogios por conta do cabelo, bem como é. Mas algumas reações a surpreendem:
– Existe preconceito, sim. Em homem acham charmoso o grisalho, mas,
para as mulheres, não. Mas hoje vejo cada vez mais mulheres aderindo
aqui no Brasil.
O fim do ritual mensal de horas a fio sentada na cadeira do salão
funcionou como uma libertação para Fernanda, que “detesta pintar”. Hoje,
quanto menos produtos precisar, melhor. Praticidade virou lema.
– Envelhece um pouco, mas acho que a gente tem que envelhecer, então
encaro numa boa. Nunca me importei com isso de “Vou fazer 40, vou fazer
50”. Não faz a mínima diferença para mim. Eu me achava bonita antes,
agora e sempre me achei.