Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Hoje concluímos o ciclo de catequeses
sobre os sacramentos falando do matrimônio. Este sacramento nos conduz
ao coração do desígnio de Deus, que é um desígnio de aliança com o seu
povo, com todos nós, um desígnio de comunhão. No início do Livro do
Gênesis, o primeiro livro da Bíblia, no ápice do relato da criação se
diz: “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o
homem e mulher… Por isto o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir
à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (Gen 1, 27; 2, 24). A
imagem de Deus é o casal matrimonial: o homem e a mulher; não somente o
homem, não somente a mulher, mas todos os dois. Esta é a imagem de
Deus: o amor, a aliança de Deus conosco é representada naquela aliança
entre o homem e a mulher. E isto é muito belo! Fomos criados para amar,
como reflexo de Deus e do seu amor. E na união conjugal, o homem e a
mulher realizam esta vocação no sinal da reciprocidade e da comunhão de
vida plena e definitiva.
1. Quando um homem e uma mulher celebram o
sacramento do matrimônio, Deus, por assim dizer, reflete-se neles,
imprime neles seus próprios traços e o caráter indelével do seu amor. O
matrimônio é o ícone do amor de Deus por nós. Também Deus, de fato, é
comunhão: as três Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo vivem
desde sempre e para sempre em perfeita unidade. E é justamente esse o
mistério do matrimônio: Deus faz dois esposos uma só existência. A
Bíblia usa uma expressão forte e diz “uma única carne”, tão íntima é a
união entre o homem e a mulher no matrimônio. E é justamente esse o
mistério do matrimônio: o amor de Deus que se reflete no casal que
decide viver junto. Por isto, o homem deixa a sua casa, a casa dos seus
pais e vai viver com sua esposa e se une tão fortemente a ela que os
dois se tornam – diz a Bíblia – uma só carne.
Mas vocês, esposos, lembra-se disso?
Estão conscientes do grande presente que o Senhor vos deu? O verdadeiro
“presente de casamento” é este! Na vossa união há o reflexo da
Santíssima Trindade e com a graça de Cristo vocês são um ícone vivo e
credível de Deus e do seu amor.
2. São Paulo, na Carta aos Efésios,
coloca em destaque que nos esposos cristãos se reflete um mistério
grande: a relação instituída por Cristo com a Igreja, uma relação
nupcial (cfr Ef 5, 21-33). A Igreja é a esposa de Cristo. Esta é a
relação. Isto significa que o matrimônio responde a uma vocação
específica e deve ser considerada como uma consagração (cfr Gaudium et
spes, 48; Familiaris consortio, 56). É uma consagração: o homem e a
mulher são consagrados em seu amor. Os esposos, de fato, em força do
Sacramento, são revestidos de uma verdadeira e própria missão, para que
possam tornar visível, a partir de coisas simples, cotidianas, o amor
com que Cristo ama a sua Igreja, continuando a doar a vida por ela, na
fidelidade e no serviço.
3. É realmente um desígnio maravilhoso
aquele que é inerente ao matrimônio! E acontece na simplicidade e também
na fragilidade da condição humana. Sabemos bem quantas dificuldades e
provações conhecem a vida de dois esposos… O importante é manter viva a
ligação com Deus, que está na base da ligação conjugal. E a verdadeira
ligação é sempre com o Senhor. Quando a família reza, a ligação se
mantém. Quando o esposo reza pela esposa e a esposa reza pelo esposo,
aquela ligação se torna forte; um reza pelo outro. É verdade que na vida
matrimonial há tantas dificuldades, tantas; seja o trabalho, seja que o
dinheiro não basta, seja que as crianças tenham problemas. Tantas
dificuldades. E tantas vezes o marido e a mulher se tornam um pouco
nervosos e brigam entre si. Brigam, é assim, sempre se briga no
matrimônio, algumas vezes voam até os pratos. Mas não devemos ficar
tristes por isto, a condição humana é assim. E o segredo é que o amor é
mais forte que o momento no qual se briga e por isto eu aconselho aos
esposos sempre: não terminem um dia no qual tenham brigado sem fazer as
pazes. Sempre! E para fazer as pazes não é necessário chamar as Nações
Unidas, que venham pra casa fazer a paz. É suficiente um pequeno gesto,
um carinho, um olá! E amanhã! E amanhã se começa uma outra vez. E esta é
a vida, levá-la adiante assim, levá-la adiante com a coragem de querer
vivê-la juntos. E isto é grande, é belo! É algo belíssimo a vida
matrimonial e devemos protegê-la sempre, proteger os filhos.
Outras vezes eu disse nesta Praça uma
coisa que ajuda tanto a vida matrimonial. São três palavras que devem
ser ditas sempre, três palavras que devem estar em casa: com licença,
obrigado e desculpa. As três palavras mágicas. “Com licença”: para não
ser invasivo na vida dos cônjuges. Com licença, mas o que te parece? Com
licença, permito-me. “Obrigado”: agradecer o cônjuge; agradecer por
aquilo que fez por mim, agradecer por isto. Aquela beleza de dar graças!
E como todos nós erramos, aquela outra palavra que é um pouco difícil
de dizê-la, mas é preciso dizê-la: “desculpa”. Com licença, obrigado e
desculpa. Com estas três palavras, com a oração do esposo pela esposa e
vice-versa, com fazer as pazes sempre antes que termine o dia, o
matrimônio seguirá adiante. As três palavras mágicas, a oração e fazer
as pazes sempre. Que o Senhor vos abençoe e rezem por mim.
Fonte: Canção Nova
Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!
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