Anunciação do Arcanjo Gabriel a Virgem Maria (cf. Lc 1, 26-38).
Conheça quais são as principais práticas da consagração a Nossa Senhora e aprenda como vivê-las bem.
Para viver bem a consagração a Nossa
Senhora, segundo o método do “Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima
Virgem”, vejamos quais são as práticas desta devoção e aprendamos como
viver bem cada uma delas. Estas práticas podem ser divididas em dois
grupos: interiores e exteriores. As interiores são as mais importantes
porque “o essencial desta devoção consiste no interior”.
São Luís Maria Grignion de Montfort ensina que “a verdadeira devoção à
Santíssima Virgem Maria é, em primeiro lugar, interior, ou seja, parte
do espírito e do coração; provém da estima que temos a Mãe de Deus, da
alta ideia que fazemos das suas grandezas e do amor que lhe consagramos.
Por causa da suma importância das práticas interiores na consagração,
nos dedicaremos mais a estas, mas trataremos também das exteriores.
I – As práticas interiores da consagração a Jesus por Maria
As práticas interiores foram
resumidas por São Luís Maria na seguinte fórmula: “fazer todas as ações
por Maria, com Maria, em Maria e para Maria”.
Fazer tudo “por” Maria é para os principiantes; “com” Maria é para os
adiantados; e “em” Maria é para os perfeitos. Esta parte da fórmula
corresponde aos “três graus clássicos da vida interior: a via purgativa,
a via iluminativa e a via unitiva”.
Apesar de que no início da consagração não é possível a vivência plena
desses três graus, pois são fases da vida espiritual, isso não significa
que são totalmente separados e que numa fase não façamos experiências
das outras. Independente da fase que vivemos, devemos nos esforçar para
crescer de graça em graça e chegar à perfeição. A última parte da
fórmula, o fazer as nossas ações “para” Maria, resume praticamente as
três anteriores: “por Maria; “com” Maria; “em” Maria. No entanto, ao
dizer que fazemos todas as ações “para Maria”, não nos enganemos
pensando que ela é o centro ou o fim último desta devoção. Pois, fazemos
tudo “para” a Santíssima Virgem, a fim de mais perfeitamente as fazer
por Jesus Cristo, com Jesus Cristo, em Jesus e para Jesus”.
Fazer todas as ações “por” Maria
Fazer todas as nossas boas obras
“por” Maria significa que devemos obedecer em tudo à Santíssima Virgem, e
deixar-nos conduzir em tudo pelo seu espírito, que é o Espírito Santo
de Deus. Pois, “aqueles que são conduzidos pelo espírito de Maria são
filhos de Maria e, por conseguinte, filhos de Deus”. Para que nos deixemos conduzir pelo espírito de Maria é preciso:
1º – Renunciar ao nosso próprio
espírito, às nossas próprias luzes e vontades, antes de fazer qualquer
coisa, especialmente antes das orações, da Santa Missa, da comunhão e de
nossas boas obras. “Porque as trevas do nosso espírito próprio e a
malícia da nossa vontade e obras poriam obstáculo ao santo espírito de
Maria, se as seguíssemos, embora nos parecessem boas”;
2º – Entregar-nos ao espírito de
Maria para ser movidos e conduzidos do modo que Ela quiser. Temos que
nos colocar e nos abandonar nas suas mãos virginais, como um instrumento
nas mãos do artista, como uma cítara nas mãos de um bom músico. Para
tanto, podemos dizer a Nossa Senhora: “Renuncio a mim mesmo e dou-me a
Vós, ó minha querida mãe!”;
3º – “Renovar este mesmo ato de oferecimento e de união, de tempos a tempos, durante a ação ou depois dela”.
Quanto mais o repetimos esse ato, mais depressa a nossa alma se
santificará e mais depressa chegaremos à união com Jesus Cristo, pois
esta segue-se sempre à união com Maria, visto que o espírito de Maria é o
espírito de Jesus.
Fazer todas as boas obras “com” Maria
Nós consagrados, devemos fazer todas
as ações com Maria. No entanto, para que isso aconteça, nesta fase em
que somos privados dos sentidos, é necessário crer que a Virgem Mãe de
Deus está sempre presente em nossas vidas. Nessa certeza, devemos voltar
o nosso olhar para ela, em todas as nossas ações, como o modelo acabado
de toda a virtude e perfeição. Pois, Nossa Senhora “é o modelo formado
pelo Espírito Santo numa simples criatura, para nós o imitarmos, na
medida das nossas limitadas forças”.
Em nossas ações, devemos considerar o modo como Maria faria se
estivesse no nosso lugar. Para tanto, examinemos e meditemos algumas das
grandes virtudes que a Mãe da Igreja praticou durante a vida:
1ª – A sua Fé viva, pela qual a Virgem de Nazaré acreditou, sem hesitar, no anúncio do Anjo.
Fé que Maria manteve fielmente, constantemente, até mesmo na mais
completa noite escura, no momento derradeiro de seu Filho, aos pés da
Cruz;
2ª – “A sua Humildade profunda, que a fez esconder-se, calar-se, submeter-se a tudo e pôr-se no último lugar”;
3ª – A sua Pureza toda divina, que não houve nem jamais haverá igual sob o Céu.
Além destas, devemos também examinar e
meditar a respeito das demais virtudes de Maria, particularmente, a sua
obediência cega, a sua contínua oração, a sua mortificação universal, a
sua ardente caridade, a sua paciência heroica, a sua doçura angélica e a
sua sabedoria divina.
Lembremo-nos que a Virgem Maria é a grande e a única Fôrma de Deus,
própria para formar imagens de Deus, facilmente e em pouco tempo. Se entrarmos nesta Fôrma e nela nos perdermos, em breve nos transformaremos em Jesus Cristo.
Fazer todos os atos “em” Maria
Precisamos fazer todas as nossas
ações em Maria. Entretanto, para bem compreender esta prática, é
necessário saber que a Santíssima Virgem, a Nova Eva, é o verdadeiro
Paraíso Terrestre do Novo Adão, e que o antigo paraíso não era mais que a
sua imagem. “Pois há neste Paraíso Terrestre riquezas, belezas,
raridades e doçuras inexplicáveis, que o Novo Adão, Jesus Cristo, aí
deixou”.
Este Lugar Santo é composto de uma terra virgem e imaculada, da qual
foi formado e se alimentou o Novo Adão, sem qualquer nódoa ou mancha,
pela ação do Espírito Santo que aí habita. Os Santos Padres, iluminados
pelo Espírito de Deus, chamam a Santíssima Virgem Maria de:
1º – Porta Oriental, por onde o grande sacerdote Jesus Cristo entra e sai do mundo. Por Maria, o Filho de Deus entrou pela primeira vez no mundo e por ela também será a Sua segunda vinda;
2º – “Santuário da Divindade, o
Repouso da Trindade Santíssima, o Trono de Deus, a Cidade de Deus, o
Altar de Deus, o Templo de Deus, o Mundo de Deus”.
Para fazer as nossas ações “em”
Maria, precisamos entrar nesse Santuário do Altíssimo, que é a própria
Virgem. Todavia, “é difícil a pecadores como nós obter permissão e ter
capacidade e luz para entrar neste lugar. Pois é tão alto e tão santo
que é guardado, não por um querubim, como o antigo Paraíso Terrestre, mas pelo próprio Espírito Santo, que se tornou seu Senhor absoluto”.
Somente por uma graça particular do Espírito Santo, graça que devemos
alcançar pela perseverança, poderemos entrar neste Templo Santo.
Fazer tudo “para” Maria
Nós consagrados, devemos fazer todas
as ações para Maria. Pois, se nos entregamos totalmente ao seu serviço, é
justo que façamos tudo para Ela, como um criado, um servo, um escravo.
No entanto, não entregamos todas as nossas boas para a Mãe de Deus como
fim último, pois este é Jesus Cristo. Tomamos a Santíssima Virgem como
fim próximo, como meio misterioso e fácil para ir ao seu Divino Filho.
Fazer tudo para Maria significa
também que, como bons servos e escravos de Nossa Senhora, apoiados na
sua proteção, precisamos defender os seus privilégios, quando são
disputados, e sustentar a sua glória, quando a atacam. Precisamos
“atrair todo o mundo, se for possível, ao seu serviço, e a esta
Verdadeira e Sólida Devoção”.
Devemos falar e clamar contra os que abusam da devoção a Mãe de Deus
para ultrajar o Filho do Altíssimo e, ao mesmo tempo, estabelecer a
consagração a Jesus por Maria. Por fim, como recompensa destes pequenos
serviços, devemos “pretender apenas a honra de pertencer a tão amável
Princesa, a felicidade de sermos por Ela unidos a Jesus, seu Filho, com
um laço indissolúvel, no tempo e na eternidade”.
II – As práticas exteriores da consagração a Jesus em Maria
As práticas exteriores da consagração a Jesus Cristo pelas mãos da Virgem Maria, ensinadas por São Luís Maria, são as seguintes:
1ª – A preparação para a consagração.
Além dessa preparação inicial, pelo menos uma vez por ano, devemos
renovar a consagração, na mesma data na qual nos consagramos, com as
mesmas práticas das três semanas. Mas, podemos até mesmo renovar tudo o
que fizemos todos os meses, e mesmo todos os dias, com estas breves
palavras: “Eu sou todo Vosso e tudo o que tenho Vos pertence, ó meu
amável Jesus, por Maria, Vossa Santa Mãe!”.
2ª –
A “Coroinha da Santíssima Virgem”,
que não é obrigatória, mas recomenda por São Luís Maria. A Coroinha é
composta de três Pai-Nossos e doze Ave-Marias, que são rezados em honra
dos doze privilégios e grandezas da Santíssima Virgem
.
3ª –
O uso das correntes ou cadeiazinhas.
São Luís Maria afirma nos explica que é muito louvável, muito glorioso e
útil para nós, que nos fizemos escravos de Jesus em Maria, que usemos
correntes de ferro. Estas serão um sinal sacramental da nossa escravidão
de amor, por isso devem ser abençoadas com uma bênção própria.
Lembramos que estes sinais exteriores não são essenciais nem tampouco
obrigatórios
,
mas são muito recomendáveis, pois além da sua eficácia sobrenatural, o
uso das correntes tem grande valor diante de Jesus e de Maria
.
4ª – O culto especial ao Mistério da Encarnação.
Devemos ter uma especial devoção ao grande mistério da Encarnação do
Verbo, que é celebrado no dia 25 de março. Pois, este “é o mistério
próprio desta Devoção, visto que ela foi inspirada pelo Espírito Santo”.
O principal mistério que celebramos e honramos na consagração é o
mistério da Encarnação, no qual podemos ver Jesus em Maria, encarnado em
seu seio. Por isso, é muito conveniente dizer que somos consagrados a
Jesus em Maria.
5ª – A grande devoção que devemos ter pela Ave-Maria e pelo Santo Rosário.
Devemos rezar com muita devoção a Ave-Maria. Pois, “tendo a salvação do
mundo começado pela Ave-Maria, a salvação de cada alma em particular
está ligada a esta oração”.
Além disso, São Luís Maria pede que não nos contentemos em rezar a
Coroinha de Nossa Senhora, mas que rezemos o Terço diariamente e, se
tivermos tempo, o Rosário cotidiano. “Se o fizeres, bendirás na hora da
morte o dia e o momento em que me acreditaste”, profetiza o Santo.
6ª – A oração do Magnificat, que
“é a única oração e a única composição da Santíssima Virgem, ou, antes,
que Jesus compôs n’Ela, pois Ele falava pela sua boca. Este é o maior
sacrifício de louvor que Deus recebeu na lei da graça. Por um lado, é o
mais humilde e reconhecido, por outro, o mais sublime e elevado de todos
os cânticos. Há nele mistérios tão grandes e escondidos que os anjos os
ignoram”. Em virtude da beleza, das grandezas e dos mistérios contidos nesta oração, devemos rezar muitas vezes o Magnificat, em agradecimento a Deus pelas incontáveis graças concedidas à Santíssima Virgem.
7ª –
O desprezo e o desapego do mundo.
Devemos desprezar, odiar e fugir muito do mundo corrupto. “Para
combater o espírito do mundo, devemos avivar a nossa fé no amor de Deus e
acreditar que a verdadeira felicidade está com Ele nos Reino dos Céus.
Para tanto, meditemos seriamente sobre o vazio das máximas e modas do
mundo e a respeito da morte e do nosso fim último, que pode ser o Céu, o
Inferno, ou o Purgatório. Meditar sobre essas realidades últimas pode
ser de grande valia para nos esvaziar do espírito mundano”
.
A vida sacramental, especialmente na participação da Eucaristia, também
será de grande auxílio para desprezar o mundo e nos desapegar dele.
Podemos suplicar a Nossa Senhora que nos empreste o seu Coração de Mãe,
para nele receber seu Filho nas espécies consagradas, com as suas
disposições
,
e não as nossas, que muito provavelmente estão contaminadas com o
espírito mundano. A oração também nos ajudará a nos esvaziar do espírito
do mundo, especialmente o Santo Rosário,
a principal arma espiritual da consagração. Enfim, outros auxílios de extraordinária eficácia são as penitências, as mortificações, os jejuns e os sacrifícios.
Assista ou ouça programa do Padre Paulo Ricardo sobre “As provações”
A devoção a Maria como auxílio para amar Jesus
Assim, com a distinção que São Luís
Maria faz entre práticas interiores e exteriores, compreendemos que a
atitude interior é fundamental em nossas orações e boas obras.
Entretanto, na realidade, as práticas interiores estão sempre ligadas às
exteriores e vice-versa. Esta separação entre práticas interiores e
exteriores é justamente para que façamos bem todas as nossas orações e
boas obras, ou seja, “por Maria, com Maria, em Maria e para Maria”.
Dessa forma, fazer todas as ações “por” Maria significa deixar-nos
conduzir pela Mãe de Deus; fazer tudo “com” Maria é perguntar-nos
sempre: como esta boa Mãe faria em nosso lugar?; fazer todas as coisas
“em” Maria é estar sempre nesse o Templo Sagrado, onde encontramos Deus;
e fazer tudo “para” Maria”
significa que entregamos tudo nas mãos da Mãe de Deus para que nossa
oferta seja agradável a Jesus Cristo. Como consagrados, devemos
fazer tudo para Maria, que tudo entrega a seu Filho Jesus Cristo, que é o
centro de nossa devoção, o fim último de nossas vidas e de todas as
nossas boas obras. Em outras palavras, fazer todas as nossas ações “por Maria, com Maria, em Maria e para Maria”
significa fazer tudo por amor a Jesus. Dessa forma, a Santíssima Virgem
é o auxílio necessário para que amemos Jesus Cristo de todo o nosso
coração, de toda a nossa alma, de todo o nosso espírito, e com todas as
nossas forças, e ao próximo como a nós mesmos.
Natalino Ueda, escravo de Jesus em Maria.
Nossa Senhora de Guadalupe, rogai por nós!