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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Por que viver a Modéstia?

Em meu último artigo sobre modéstia, defini essa virtude e expliquei por que ela é essencial, e não opcional, à vida cristã. Ela está longe, é fato, de ser a virtude mais importante; mas, ainda assim, vivê-la é uma proteção contra um sem número de perigos, enquanto desprezá-la é um convite a uma multidão de pecados.

A modéstia é uma profunda necessidade humana. Por isso, não é possível rejeitá-la senão à custa da própria integridade e autoestima. Quantas mulheres não haverá por aí, feridas em sua dignidade, assombradas pela lembrança de terem sido usadas uma e outra vez apenas por causa de seus corpos? São vítimas de má instrução, de má educação, de maus conselhos. São mulheres carentes de modéstia, virtude intimamente vinculada ao fato e à percepção da dignidade humana. E por terem sofrido a falta que faz tal virtude, dela necessitam ainda mais para poder recuperar sua dignidade e a consciência do quanto valem, simplesmente por serem pessoas, que merecem ser amadas por si mesmas. Todo o mundo quer ser amado como pessoa, não como coisa; como um quem, não como um quê.

O cristão é chamado a proclamar a primazia do divino sobre o humano e deste sobre o animal. Reconhecemos, assim, a bondade natural e a capacidade de tornar-se santo de todo corpo animado por uma alma imortal, criada à imagem e semelhança de Deus: “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gn 2, 7); “Vós me tecestes no seio de minha mãe […], nada de minha substância vos é oculto, quando fui formado ocultamente, quando fui tecido nas entranhas subterrâneas” (Sl 138, 13.14).

O corpo é criação de Deus, templo do Espírito Santo, purificado e ungido no batismo, herdeiro da promessa de ressuscitar um dia para a eterna bem-aventurança. A nossa aparência e o nosso comportamento deveriam ser testemunhas da verdade caracteristicamente católica — atestada com toda a clareza no Novo Testamento — de que tanto o matrimônio como o celibato honram o corpo humano como algo digno de amor, como canal da graça e sinal sagrado, quando consagrado pelos sacramentos de Jesus Cristo: “O corpo não é para a impureza, mas para o Senhor e o Senhor para o corpo” (1Cor 6, 13).

Quer se trate do corpo físico, do corpo político ou do Corpo místico, cada um deles é, à sua maneira, uma unidade composta de várias partes distintas, distribuídas e relacionadas hierarquicamente. A pessoa humana, neste sentido, consiste numa hierarquia de elementos que lhe compõem a personalidade: há muitos níveis e camadas do “eu”, e nem todas elas devem estar à mostra. Um igualitarismo antropológico radical, que atribui igual valor ao corpo e à alma, ou às diferentes potências da alma — pondo, por exemplo, a imaginação ou a vontade no mesmo nível que a inteligência —, não está menos equivocado do que o igualitarismo político ou eclesiológico. 



A dimensão corporal da pessoa é inseparável do seu significado sacramental, sobretudo quando falamos do corpo nu. Este é o dom mais expressivo que os esposos podem oferecer um ao outro. Ao darem seus corpos, eles se doam a si mesmos, já que o corpo não é apenas algo que “possuo”, como se fora outra propriedade mais, mas parte daquilo que eu sou. A pessoa humana não “está” em um corpo, senão que ela é corporal: somos seres encarnados. Eis o que Santo Tomás nos tem a dizer a esse respeito:

Por que há no corpo natural tantos membros: mãos, pés, boca e assim por diante? Porque tais membros servem às diferentes funções da alma. Ora, a alma, enquanto tal, é causa e princípio desses membros, que são o que a alma é virtualmente. Com efeito, o corpo está feito para alma, e não ao contrário. Por isso, o corpo físico é como que certa plenitude da alma.

Por conseguinte, o corpo, mais do que qualquer outro dom que se possa dar, há de ser descoberto e possuído somente por aquele ou aquela a quem ele houver sido consagrado solenemente, à semelhança da Eucaristia, que, sendo o corpo verdadeiro de Cristo, há de ser recebido apenas pelo batizado que estiver unido a Cristo pela caridade. O corpo do marido, ensina São Paulo, já não pertence a ele, mas à sua esposa, e o corpo desta ao marido (cf. 1Cor 7, 4).

Vale a pena refletir sobre o estreito vínculo sacramental que une os esposos e a completa modéstia, a sensibilidade de alma, por ele exigida. A modéstia é uma virtude essencial, não porque os corpos ou as paixões sejam, em si mesmos, coisa vergonhosa, mas porque a bondade que lhes corresponde e o poder que têm de servir como ministros da graça impõem o dever de protegê-los de todo abuso, manipulação e desordem. Recordemos as belas palavras de São Paulo, tão exaltadas, tão cheias de amor por tudo o que Deus criou e redimiu: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habi­ta em vós, o qual recebes­tes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo” (1Cor 6, 19-20).

Os seres humanos somos chamados a guardar o segredo da nossa personalidade, dom precioso que recebemos de Deus, mistério que não devemos expor para “consumo público”. Aos namorados e noivos, aos recém-casados e esposos de longa data foi confiada uma verdade divina, que eles têm o dever de defender contra as forças hostis que ameaçam profaná-la. Homem e mulher, no fundo, são dois segredos a serem compartilhados no amor; são como uma câmara íntima, que não deve ser escancarada, como uma praça pública: deve, pelo contrário, ser tratada com reverência, como se estivéssemos diante de um santuário ou do sacrário de uma igreja.



Nossa Senhora Modestíssima, rogai por nós!

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

O que vestimos importa sim, Senhor!

"Todos os anos, ao entrarmos nos meses mais quentes do ano, volta à tona o problema da modéstia no vestir — agora ainda mais, dado que no Ocidente as pessoas parecem ter perdido até mesmo as mais elementares posturas morais e costumes sociais que antes garantiam um mínimo de autorrespeito e consideração pelos outros. Nós precisamos de nada menos que uma revolução moral, uma reconstrução de nossos mais básicos conceitos de virtude. Nem é necessário dizer que será um trabalho custoso, e que nós não seremos capazes de “virar a maré” da cultura geral (a qual seria mais acertadamente descrita, a esse ponto, como uma “anticultura”). Todavia, de modo algum é impossível reconstruir esses conceitos dentro das comunidades cristãs, contanto que haja uma vontade corajosa de tratar, com clareza e serenidade, dos assuntos que estão em jogo. É o que procurarei fazer em linhas gerais. 

De acordo com S. Tomás de Aquino, a noção de modéstia no vestir, no falar e no modo de se comportar deriva da noção de moderação, de fazer algo de uma maneira adequada, bem sopesada, e que observe um meio entre os extremos (cf. STh II-II 168; 169). No caso em exame, os extremos são, por um lado, a indecência (de longe muito mais comum nos dias de hoje) e, por outro, uma afetação de virtude e uma inibição malsã.

Como todas as virtudes morais, o hábito da modéstia não só capacita a pessoa para querer e escolher o que é certo a esse respeito, mas também a impele a fazê-lo; a modéstia torna-se uma segunda natureza, uma disposição a agir. Tomás nos recordaria, também, que essa virtude nos ajuda a apreciar os bens corporais em seu devido lugar. Quando o exigem as pessoas, o lugar e a ocasião, as paixões do apetite concupiscível são boas, instrumentos de ação virtuosa queridos por Deus.

A pessoa modesta é aquela cujas ações e aspecto externo consistentemente refletem autodomínio, bom juízo do que seja apropriado, um controle firme dos próprios sentimentos, bem como uma habilidade serena de expressar a si mesmo e de “ser” quem se é sem necessidade de alarde. Por isso, a verdadeira modéstia começa na alma para só depois chamar a atenção dos olhos ou dos ouvidos alheios. Essa modéstia interior consiste em regular toda a própria vida de uma maneira que seja calma, gentil, reverente e pura. Vestir roupas modestas ou evitar danças imodestas é algo que simplesmente “transborda” dessa condição interior.

As sociedades modernas, no Ocidente, descartaram a modéstia mais importante para a saúde básica do convívio social: a de vestir-se e comportar-se de modo a não despertar o tipo errado de atenção do sexo oposto — uma atenção animalesca, possessiva e reducionista. Na verdade, o que se ostenta, obviamente, é o vício oposto.

Infelizmente, muitos cristãos sinceros que querem levar uma vida casta parecem estar inconscientes da ligação que existe entre a pureza de coração e a modéstia exterior, entre o compromisso com a virtude e a forma de apresentar o próprio corpo às outras pessoas — uma ignorância ainda mais surpreendente quando se considera a obviedade dessa associação, que foi compreendida com muita clareza por todas as épocas, com exceção da nossa.

Por exemplo, existem jovens católicos que procuram viver a pureza, mas que continuam a se vestir como seus pares do mundo, com estilos de roupa provocativos ou inapropriados. É possível ver isso vividamente nas Jornadas Mundiais da Juventude, onde, além da imodéstia, também é bastante comum uma impressionante falta de consciência a respeito do que seja apropriado para um evento sagrado e solene. 

Nesse quesito, as pessoas de hoje parecem ter adotado um critério único: o conforto físico. Qualquer coisa que possa causar o mais remoto dos desconfortos ou dos incômodos é imediatamente rejeitada. Como resultado, ao se vestirem em dias de alta temperatura, os cristãos de maneira geral com muita frequência caem nos mesmos maus hábitos de seus pares mundanos, que não pensam nem no que é agradável a Deus, nem no que ajudará a si próprio e aos outros a viver a castidade, mas tão-somente no que é “mais fresco” ou “mais prático” de se usar. Como parte pequena de um ascetismo sadio, os cristãos devem rejeitar esse tipo de complacência e bajulação do corpo. São Paulo descreve aqueles que cremos como pessoas que “trazemos sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo” (2Cor 4, 10).

Quem nunca se impressionou com fotografias antigas e em preto e branco de nossos antepassados, os quais, debaixo de um calor sufocante de verão, usavam roupas longas e amplamente cobertas? Embora eu não sugira que voltemos ao mesmo guarda-roupas que eles tinham, digo que sim, nós faríamos bem em imitar-lhes o vigor e a propriedade. É óbvio que se deve levar em consideração circunstâncias de temperatura e de atividades, como longos passeios ao ar livre, mas há soluções modestas e imodestas para qualquer que seja a situação. Com os materiais modernos de que dispomos, vestir-se modestamente não significa vestir-se “de modo opressivo”; há à disposição, por exemplo, roupas que cobrem os ombros e chegam até os tornozelos, sendo ao mesmo tempo de um material leve, opaco e agradável.

Nós não podemos fazer de conta que o modo como tratamos nosso corpo, o modo como comemos e nos vestimos, o modo como nos apresentamos, o modo como nos comportamos, não importando se o fazemos com disciplina ou desleixo, educação ou irreflexão, responsabilidade ou ingenuidade, sejam “particularidades” espiritualmente irrelevantes. Trata-se, ao contrário, de coisas essenciais: elas também irão manifestar a vida de Jesus ao mundo, ou promover um espírito contrário ao dEle. O modo como alguém trata, exibe e faz uso de seu corpo revela muito dos trabalhos de sua própria alma: quem ela (ou ele) pensa ser, o que pensa a respeito de si mesma ou dos outros, o que espera de si e dos outros. De mais maneiras do que normalmente as pessoas imaginam, as aparências não enganam: o meio é a mensagem.

Como acontece com qualquer tópico de importância, também para este a Revelação divina tem as suas orientações: 

Quero que as mulheres usem traje honesto, ataviando-se com modéstia e sobriedade. Seus enfeites consistam não em primorosos penteados, ouro, pérolas, vestidos de luxo, e sim em boas obras, como convém a mulheres que professam a piedade (1Tm 2, 9-10). 



Há uma maneira de se comportar e de se apresentar que é inseparável do modo de vida cristão; é um dos sinais que, neste mundo, distingue aqueles que crêem. A modéstia, assim como a paz, ainda que seja um bem da alma em primeiro lugar, não pára na alma, mas tem um efeito sobre todos os aspectos da vida em sociedade. O mundo moderno carece de modelos de autocontrole e de autoapresentação digna; os cristãos podem e devem ser este exemplo. A própria falta de excesso faz com que valha a pena fazer conhecida a sua presença.

A virtude da religião, por meio da qual damos de volta ao Deus infinito aquilo que somos capazes de dar, inclui a oferta a Ele daquilo que somos, nossos corpos e almas, como expressão de um amor fiel. É por isso que a modéstia é, ao mesmo tempo, consequência e salvaguarda da religião

S. Tomás diz que a santidade denota duas coisas: permanecer puro e permanecer firme. “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8): felizes aqueles que, por amor a Deus e com todo o seu ser, preservam firmemente a pureza de alma e de corpo. A visão face a face de Deus, a grande meta e alegria da vida cristã, é a razão última pela qual devemos manter não só nossos corações, mas também nosso falar, nosso agir e nosso apresentar-se, puros, sem mácula, simples e sóbrios. Ao fazer isso, nosso modo de vida é conformado ao de Nosso Senhor Jesus Cristo, tornando presente, em um mundo decaído e sujo, alguma coisa da límpida inocência, da paz serena e do frescor incorruptível do Espírito Santo."



Nossa Senhora Castíssima, rogai por nós!

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Introdução à Teologia do Corpo – Parte 2: No princípio não era assim





A criação do homem

No Evangelho de São Mateus, lemos que, nos confins da Judeia, para além do Jordão, alguns fariseus se aproximaram de Jesus com o intuito de o testarem no conhecimento da lei, perguntando a Ele se era permitido a um homem repudiar a sua mulher, por qualquer motivo. Assim Jesus respondeu: “Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e disse: ‘Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne’? Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que Deus uniu, não o separe o homem”. Os fariseus, em seguida, questionaram Jesus: “Por que foi então, perguntarem eles, que Moisés preceituou dar-lhe carta de divórcio ao repudiá-la?”. Ao que Jesus replica, concluindo: “Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas no princípio não foi assim” (Mt 19,4ss). No Evangelho de São Mateus, lemos que, nos confins da Judeia, para além do Jordão, alguns fariseus se aproximaram de Jesus com o intuito de o testarem no conhecimento da lei, perguntando a Ele se era permitido a um homem repudiar a sua mulher, por qualquer motivo. Assim Jesus respondeu: “Não lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher, e disse: ‘Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne’? Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Pois bem, o que Deus uniu, não o separe o homem”. Os fariseus, em seguida, questionaram Jesus: “Por que foi então, perguntarem eles, que Moisés preceituou dar-lhe carta de divórcio ao repudiá-la?”. Ao que Jesus replica, concluindo: “Por causa da dureza do vosso coração, Moisés permitiu que repudiásseis as vossas mulheres; mas no princípio não foi assim” (Mt 19,4ss).

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Introdução à Teologia do Corpo – Parte 1: O pecado reprime o homem







A unidade e a inocência originais na vida humana logo após a Criação; o Pecado Original e suas consequências, antevendo o chamado redentor de Cristo

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Nestes primeiros artigos, serão desenvolvidas as questões referentes à unidade e à inocência originais na vida humana logo após a Criação; o Pecado Original; e as consequências deste, antevendo o chamado redentor de Cristo a todos nós.

Pecar é perder a si mesmo

O Pecado Original reprimiu o ser humano verdadeiro – represou, no ser humano, a sua verdade. Isto quer dizer que, pela hereditariedade do Pecado, nós ganhamos uma estrutura pessoal em que nossa verdade está distante de nosso ser, afastada de nossas consciências. No entanto, esta, precisamente por ser a verdade, não se perde nunca, e permanece pedindo para irromper em nossas vidas, no seio da histórica artificialidade da humanidade.
Os pecados atuais, mortais ou veniais, mantêm-nos reprimidos, isto é, desintegrados, distantes de Deus e de nós mesmos. Motivo este pelo qual vive-se, com tamanha frequência, com um enorme senso de vazio e de frustração, enquanto, estranhamente, vive-se todas as promessas de felicidade do mundo. A pessoa se pergunta: mas o que há de errado comigo? A resposta é: você está depositando sua esperança em um mundo cuja substância própria é a perda da esperança. É como querer curar uma ferida num espinho – o mesmo que a gerou. A incredulidade e a desesperança são a própria matéria da qual é feita o mundo, e é neste que você, pela insensatez e desorientação geradas pelo Pecado, está depositando as suas expectativas de alegria e de paz. Sem perceber, você está apostando no pecado como projeto de vida, como se aí fosse encontrá-la. Mas, como poderia ser projeto de vida aquilo que, precisamente, retira a mesma de nós?
Está aí a tragédia do mundo humano pós-Pecado Original: o sentido é buscado comumente naquilo que o elimina; investe-se a vida, logo, naquilo que a transforma em morte. E depois, ainda, não se consegue entender o que está se passando! Não poderia ser diferente, pois: o cego não pode enxergar. Como cobrar do cego que não se dirija novamente ao precipício? É preciso que, antes, o Evangelho e o encontro com a pessoa de Cristo lhe restitua a visão.
Por quê, aqui, relaciona-se “repressão” com “desintegração”? É que, se estamos inteiros, de fato, então estamos com Deus, que inteiros nos criou. Mas, após o Pecado, Adão esconde-se e foge de Deus, temendo-O: por hereditariedade, assim também nós temos a tendência de fazer. Para escondermo-nos de Deus, desintegramo-nos, dividindo a nossa essência em pedaços, e pressionando a boa parte destes para a inconsciência, de modo a deixarmos de ver, interiormente, a imagem e semelhança de Deus em nós mesmos. O que tentamos fazer é escondê-Lo em nós, com a trágica esperança de que assim Ele também não nos veja. É assim que nós, em plena luz do dia, estamos como Adão, escondendo-nos de Deus em um arbusto – como se qualquer arbusto ou montanha, por maior que fosse, pudesse esconder algo ou alguém de Deus. Culpados do Pecado, feridos por esta culpa, nós não queremos olhar para a integridade de nós mesmos e reconhecer a nossa miséria. A culpa pelo pecado e o orgulho estão lado a lado: numa mão, a repressão (da culpa), noutra, a resistência que a sustenta. O homem se entristece e se enfraquece com o pecado, mas luta para não deixá-lo, temendo as consequências de um retorno humilde ao Criador. Adão ouve a voz de Deus no jardim e tem medo. Afinal, não é este o medo que tantos têm, quando a voz de Deus começa a ressoar forte demais no interior? Esse é o medo comum de todos que ainda não se desmontaram diante de Deus, para que Ele possa, com sua graça, devolver a sua integridade e a sua dignidade.
A vida humana que resiste à graça de Deus, assemelha-se a de crianças de colo, em tudo dependentes dos seus pais, que – após fazerem uma primeira besteira – resolvessem fingir que são adultas e que vivem sozinhas em suas casas, ignorando a existência dos seus genitores e responsáveis, e fugindo deles de um cômodo a outro. Ainda obteriam da parte deles o seu sustento básico, pois os pais não deixariam seus filhos morrerem: mas não poderiam desenvolver as suas vidas até a sua plenitude, na medida em que negariam a educação, a orientação e o apoio dos pais, todo o sustento espiritual da filiação que poderia lhes dar vida plena e a liberdade. Após o Pecado Original, e cada pecado atual, o ser humano perde a si mesmo porque perde a comunhão com Deus, seu Criador e Sustentador. Mas, em vez de se reconhecer criança de colo, e olhar para o Pai que está de braços abertos e estendidos, pedindo ajuda a Ele para superar sua fraqueza, vira a cara, fingindo-se adulto, por medo de ser punido, e pela rigidez do orgulho.
Com a encarnação de Cristo, iniciou-se na História o chamado definitivo, que havia sido antecipado desde o início dos tempos, e desde a Antiga Aliança com Abraão, para que todos (os que quiserem) possam reencontrar o Pastor e retornar à Casa, retomando, pela Cruz, o acesso à árvore do centro do jardim, com o batismo, a absolvição dos pecados, e o Pão da Vida.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Creio na Ressurreição da Carne: Introdução à Teologia do Corpo (Prólogo)

 Rômulo Cyríaco
 
Pixabay - CC0







O início de uma série de artigos iluminadores para aprofundar em um dos elementos constitutivos mais fascinantes da natureza humana
 
Entre 1979 e 1984, ao longo de muitas quartas-feiras, o amado Papa São João Paulo II dedicou-se a um belíssimo projeto: esclarecer aos fiéis e ao mundo, solidamente e em definitivo, qual é realmente a doutrina católica a respeito do corpo e da sexualidade do ser humano. Para isso, fundamentou-se nas Escrituras e em toda a Tradição Apostólica e dos Padres da Igreja, desde o cristianismo primitivo. Foram mais de uma centena de catequeses, nas quais tratou do assunto em profundidade, com brilhantismo e admirável rigor filosófico e teológico. A presente série de artigos oferecerá uma introdução a estas catequeses, que foram publicadas sob o título de Teologia do Corpo.

Prólogo para uma introdução à Teologia do Corpo

Antes mesmo de tocarmos nos conceitos específicos do projeto teológico de São João Paulo II, para “preparar o terreno”, é conveniente expor um pouco da intrínseca e inevitável relação de toda autêntica teologia católica com a realidade do corpo.
Após a Anunciação, o Espírito Santo gerou o Filho no ventre de Maria, a Santíssima Virgem. Jesus Cristo é Deus encarnado. Sua missão espiritual é marcada por uma forte corporeidade. Contemplemos a Paixão de Cristo: a agonia no Horto das Oliveiras, a flagelação, a coroa de espinhos, o carregamento da Cruz, a crucifixão, a lança que faz jorrar sangue e água de seu flanco, e também a Sua Ressurreição: “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai-me e vede, porque um espírito não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho” (Lc 24,39).
Cristo, em sua missão, era um Sacramento Vivo. Pensemos na mulher hemorroíssa, que curou-se ao tocar somente as vestes de Jesus… Um pedaço de tecido, que protegia o Corpo de Deus. Tantos milagres similares relatados na vida dos Santos – pelas luvas que cobriam as chagas de Padre Pio, pelo lenço com o qual o mesmo enxugava as lágrimas que derramava na Celebração Eucarística. Pois Cristo, Ressuscitado, permanece Vivo na realidade sacramental de sua Igreja, Seu Corpo Místico. Pois Cristo Se doa inteiramente, até o fim dos tempos, em Espírito e em Corpo, à Igreja, Sua Esposa. Apenas aguardando nossa inteira doação, como membros da Igreja, para nos cumular de graças, e tornar-nos participantes de Sua Encarnação, Paixão, e Gloriosa Ressurreição.

terça-feira, 28 de março de 2017

Homem consegue viver sem sexo?

A Canção Nova está com um projeto falando sobre a Teologia do Corpo.

Em um desses vídeos o missionário Sandro Arquejada responde a essa pergunta. 
Importante para homens e mulheres.
Veja:



Quem se interessou pelo tema e quiser ver os outros vídeos é só procurar no YouTube.


São José, castíssimo, rogai por nós!
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