(tradução de Leonardo Meira - equipe CN Notícias)
Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Queridos Irmãos e Irmãs,
acolho-vos com alegria por ocasião da Assembleia Anual da Pontifícia Academia para a Vida.  Saúdo particularmente o Presidente, Monsenhor Ignacio Carrasco de  Paula, e agradeço-o pelas suas corteses palavras. A cada um de vós  dirijo as minhas cordiais boas-vindas! Nos trabalhos destes dias, tendes  afrontado temas de relevante atualidade, que interrogam profundamente a  sociedade contemporânea e a desafiam a encontrar respostas sempre mais  adequadas ao bem da pessoa humana. A temática da síndrome pós-abortiva – vale dizer, o grave desconforto psíquico experimentado frequentemente pelas mulheres que recorrem ao aborto voluntariamente – revela  a voz insuprimível da consciência moral e a ferida gravíssima que ela  sofre cada vez que a ação humana atraiçoa a inata vocação do ser humano  ao bem, que a ação testemunha. Nessa reflexão, seria útil  também dedicar atenção à consciência, às vezes ofuscada, dos pais das  crianças, que frequentemente deixam sozinhas as mulheres grávidas. A  consciência moral – ensina o Catecismo da Igreja Católica  – é aquele "juízo da razão, pelo qual a pessoa humana reconhece a  qualidade moral dum ato concreto que vai praticar, que está prestes a  executar ou que já realizou" (n. 1778). É, de fato, missão da  consciência moral discernir o bem do mal nas diversas situações da  existência, a fim de que, com base nesse juízo, o ser humano possa,  livremente, orientar-se para o bem. A quantos desejariam negar a  existência da consciência moral no homem, reduzindo a sua voz ao  resultado de condicionamentos externos ou a um fenômeno puramente  emocional, é importante rebater que a qualidade moral do agir  humano não é um valor extrínseco talvez opcional e não é nem mesmo uma  prerrogativa dos cristãos ou dos fiéis, mas acomuna todo o ser humano.  Na consciência moral, Deus fala a cada um e convida a defender a vida  humana em todo momento. Nesse vínculo moral com o Criador está a  dignidade profunda da consciência moral e a razão da sua  inviolabilidade.
Na consciência, o homem todo  inteiro – inteligência, emoção, vontade – realiza a sua vocação ao bem,  de forma que a escolha pelo bem ou pelo mal nas situações concretas da  existência chega a assinalar profundamente a pessoa humana em toda a  expressão de seu ser. Todo o homem, de fato, fica ferido quando o seu  agir se desenvolve contrariamente ao ditame da própria consciência.  Todavia, também quando o homem refuta a verdade e o bem que o Criador  lhe propõe, Deus não o abandona, mas, exatamente através da voz da  consciência, continua a procurá-lo e a falar com ele, a fim de que  reconheça o erro e se abra à Misericórdia divina, capaz de curar  qualquer ferida.
Os médicos, em particular, não podem  fazer pouco caso da séria missão de defender do engano a consciência de  muitas mulheres que pensam encontrar no aborto a solução para  dificuldades familiares, econômicas, sociais, ou a problemas de saúde da  sua criança. Especialmente nessa última situação, a mulher é muitas  vezes convencida, às vezes pelos próprios médicos, de que o aborto  representa não somente uma escolha moralmente lícita, mas mesmo um  necessário ato "terapêutico" para evitar sofrimentos à criança e à sua  família, e um 'injusto" peso à sociedade. Sobre um cenário cultural  caracterizado pelo eclipse do sentido da vida, em que se é muito  atenuada a comum percepção da gravidade moral do aborto e de outras  formas de atentados contra a vida humana, pede-se aos médicos uma  especial fortaleza para continuar a afirmar que o aborto não  resolve nada, mas mata a criança, destrói a mulher e cega a consciência  do pai da criança, arruinando, frequentemente, a vida familiar.
Tal  tarefa, todavia, não diz respeito somente à profissão médica e aos  agentes de saúde. É necessário que a sociedade toda se coloque em defesa  do direito à vida do concebido e do verdadeiro bem da mulher, que  nunca, em nenhuma circunstância, poderá se realizar na escolha do  aborto. Também será necessário – como indicado pelos vossos trabalhos –  não esquecer os auxílios necessários às mulheres que, tendo  infelizmente já recorrido ao aborto, estão agora experimentando todo o  drama moral e existencial. Múltiplas são as iniciativas, em  nível diocesano ou de parte de voluntariados, que oferecem apoio  psicológico e espiritual para uma recuperação humana plena. A solidariedade da comunidade cristã não pode renunciar a esse tipo de corresponsabilidade. Desejo fazer novamente, a tal propósito, o convite do Venerável João Paulo II  às mulheres que fizeram recurso ao aborto: "A Igreja está a par dos  numerosos condicionamentos que poderiam ter influído sobre a vossa  decisão, e não duvida que, em muitos casos, se tratou de uma decisão  difícil, talvez dramática. Provavelmente a ferida no vosso espírito  ainda não está sarada. Na realidade, aquilo que aconteceu, foi e  permanece profundamente injusto. Mas não vos deixeis cair no desânimo,  nem percais a esperança. Sabei, antes, compreender o que se verificou e  interpretai-o em toda a sua verdade. Se não o fizestes ainda, abri-vos  com humildade e confiança ao arrependimento: o Pai de toda a  misericórdia espera-vos para vos oferecer o seu perdão e a sua paz no  sacramento da Reconciliação. A este mesmo Pai e à sua misericórdia,  podeis com esperança confiar o vosso menino. Ajudadas pelo conselho e  pela solidariedade de pessoas amigas e competentes, podereis contar-vos,  com o vosso doloroso testemunho, entre os mais eloquentes defensores do  direito de todos à vida" (Encíclica Evangelium vitae, 99).
 A consciência moral dos pesquisadores e de toda a sociedade civil está  intimamente implicada também no segundo tema objeto dos vossos  trabalhos: a utilização dos bancos de cordão umbilical a título clínico e  de pesquisa. A pesquisa médico-científica é um valor, e  portanto um compromisso, não somente para os pesquisadores, mas para  toda a comunidade civil. Daí surge o dever de promoção de  pesquisas eticamente válidas por parte das instituições e o valor da  solidariedade dos indivíduos em particular na participação em pesquisas  destinadas a promover o bem comum. Esse valor, e a necessidade dessa  solidariedade, evidenciam-se muito bem no caso do emprego de  células estaminais provenientes do cordão umbilical. Trata-se de  aplicações clínicas importantes e de pesquisas promissoras no plano  científico, mas que, na sua realização, muito dependem da generosidade  na doação do sangue cordonal no momento do parto e da adequação das  estruturas, para fomentar a vontade de doação por parte das grávidas.  Convido, portanto, todos vós a fazer-vos promotores de uma verdadeira e  consciente solidariedade humana e cristã. A tal propósito, muitos  pesquisadores médicos olham justamente com perplexidade para o crescente  florescer de bancos privados para a conservação do sangue cordonal para  exclusivo uso autólogo [em si mesmo]. Tal opção – como demonstram os  trabalhos da vossa Assembleia – além de ser privada de uma real  superioridade científica com relação à doação cordonal, debilita o  genuíno espírito de solidariedade que deve constantemente animar a  pesquisa daquele bem comum ao qual, em última análise, a ciência e a  pesquisa médica tendem.
Queridos Irmãos e Irmãs, renovo a  expressão do meu reconhecimento ao Presidente e a todos os Membros da  Pontifícia Academia para a Vida pelo valor científico e ético com que  realizais o vosso compromisso a serviço do bem da pessoa humana. O meu  desejo é que mantenhais sempre vivo o espírito de autêntico serviço, que  torna as mentes e os corações sensíveis a reconhecer as necessidades  dos homens nossos contemporâneos. A cada um de vós e aos vossos queridos  concedo, de coração, a Bênção Apostólica.
Fonte: Canção Nova






















