Cada vez mais mulheres estão deixando de lado as opiniões alheias e exibindo com confiança seus cabelos brancos.
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22 out 2012, 18h52
- Atualizado em 14 dez 2016, 12h25
Leitoras queridas, vou lhes contar minha história: tenho 42 anos, sou
grisalha e trabalho como jornalista na Editora Abril há oito anos.
Tornei-me personagem desta matéria para compartilhar com vocês uma
experiência singular. A decisão de exibir os meus cabelos brancos não
foi tão difícil para mim, uma vez que sou pouco disciplinada com os
tratamentos de beleza. Não se trata de descuido, mas de uma natural
falta de interesse: não quero me tornar escrava da tintura. Só que essa
mudança no meu visual, surpreendentemente, tem causado muita polêmica.
Uma escolha que deveria dizer respeito apenas a mim desperta reações às
vezes bastante inflamadas. Tenho uma colega no trabalho que não aceita
meu grisalho. Vira e mexe, ela vem com a patrulha: “Pinte seu cabelo.
Você é muito nova, cabelo branco a envelhece”. E não é só ela: tenho
ouvido isso de muitas mulheres. Por outro lado, outras tantas,
desconhecidas, me param no banheiro, no elevador e até na rua para
comentar que gostaram do meu visual e terminam elogiando minha coragem.
Isso chama minha atenção. Por que esse assunto suscita tanta polêmica?
Para a antropóloga Mirian Goldenberg, professora da UFRJ, envelhecer no
Brasil ainda é um tabu. “As mulheres têm de ser jovens, sexy e
malhadas.” Talvez por isso, muitas investem tanto em parecer mais novas.
“Se uma delas deixa o cabelo branco, é como se contestasse todo o
esforço despendido pelas outras”, completa Mirian. Estudiosa dos temas
corpo e envelhecimento, ela morou na Alemanha, onde teve oportunidade de
observar que a mulher madura se valoriza e é valorizada. “As alemãs
priorizam o bem-estar e os prazeres do dia a dia. Elas não entendem a
obsessão das brasileiras pela juventude. Afinal, qual é a importância de
parecer mais jovem?”, questiona.
Questão de escolha
Não se trata de certo ou errado. “Não há nenhum problema em pintar os
cabelos se é uma opção sua. A questão está na liberdade de escolher ser
grisalha, pois muitas mulheres acabam escondendo os fios brancos apenas
para não enfrentar as críticas negativas dos outros”, afirma a
antropóloga. E essa pressão social, acredite, atinge a todas, até mesmo
quem escolheu uma vida religiosa, como é o caso da jornalista Juliana
Vilarinho, que há 20 anos tornou-se monja da instituição Brahma Kumaris.
Faz quase cinco anos que ela resolveu assumir seus fios brancos. “Como
nos meios onde transito não há tanta exigência com relação à aparência,
foi mais fácil sustentar minha opção. Mas confesso que hesitei em levar a
ideia adiante na primeira vez que enfrentei um encontro familiar”,
conta ela. De fato, houve alguns comentários desaprovadores. Mas Juliana
ficou firme: “É comum as pessoas associarem o cabelo grisalho com
desleixo, e não é verdade. No meu caso, tenho o cuidado de usar produtos
específicos para esse tipo de cabelo. Entre eles, xampus com proteção
solar. E nunca fico muito tempo exposta ao sol para não amarelar os
fios”, diz.
Sim, a cabeleira grisalha também pede manutenção – mas nada além do que
você faria habitualmente por seus cabelos originais. “Recomendo um
corte mais curto e repicado para que o cabelo tenha movimento e
‘levante’ as feições. O branco, por si só, tende a apagar o visual.
Combinado a fios muito longos, essa característica fica reforçada”,
ensina o cabeleireiro Francisco de La Lastra, há 30 anos na profissão.
Para o tratamento, o profissional indica xampus desamareladores: levam
um pigmento roxo ou azulado que anula o tom amarelo. “Use os somente uma
vez por semana, senão o cabelo pode ficar arroxeado. No restante,
mantenha os cuidados habituais”, recomenda. E foi justamente para não
ter de se preocupar com manutenção extra que a especialista em
realinhamento de ambientes Mônica de Mattos Duarte também optou por
voltar ao seu cabelo natural. “As tinturas ressecavam muito os fios, que
tinham de ser hidratados com frequência. Fiquei curiosa então para ver
como estavam, e gostei. A transição para eliminar toda a tinta é a parte
desagradável. Porém, como sempre cultivei uma aparência natural, isso
não me afetou”, conta. A repercussão foi positiva, mas o melhor, na
opinião de Mônica, é sentir-se bem. “Não acho que o grisalho envelhece. É
apenas uma marca da passagem do tempo.” Realmente, as mulheres que se
sentem seguras com essa decisão veem no espelho apenas mais uma faceta
de si mesmas. Um sinal de maturidade. “E a maturidade pode ser muito
sedutora. Só que no Brasil é sinônimo de velhice”, diz a antropóloga
Mirian.
Símbolo de poder
Essa autoconfiança pode ser inspiradora. Ainda que pareça paradoxal,
muita gente também costuma associar as grisalhas ao poder. Se você
pensar no assunto, irá se lembrar da personagem Miranda Priestly,
representada pela atriz americana Meryl Streep no filme O Diabo Veste
Prada. De cabelos totalmente brancos, ela é chique, inteligente e
editora-chefe de uma famosa revista de moda. De carne e osso, há
poderosas como a francesa Christine Lagarde, a primeira mulher a ocupar o
cargo de diretora-gerente do FMI. “Nessas mulheres, o cabelo grisalho
não só representa a emancipação feminina como também a experiência e o
conhecimento”, explica o psicoterapeuta Marco Antonio de Tommaso.
Segundo ele, isso ajuda a criar uma cultura de aceitação. “É o que
chamamos de modelação. Quando figuras importantes assumem um
comportamento como esse, outras mulheres sentem que têm um aval para
segui-las”, diz. Talvez por isso seja tão emblemático o caso da modelo
americana Cindy Joseph. Linda e bem resolvida com as marcas da idade,
ela defende que todas as mulheres devem seguir seus desejos. Marco
Antonio concorda: “É libertador poder assumir a própria identidade sem
seguir as expectativas dos outros”. Um caminho nem sempre fácil, mas
certamente gratificante.
Livre e feliz
Na contramão de todas as expectativas, a maquiadora Americana Cindy
Joseph se tornou famosa ao iniciar, aos 49 anos, a carreira de modelo.
Mas de um nicho muito peculiar: o das grisalhas. O sucesso é tão grande
que ela continua na ativa até hoje, aos 61 anos. E nem pensa em parar.
“É um trabalho recompensador e divertido”. Mãe de dois filhos e prestes a
se casar com o atual namorado, ela lançou recentemente uma linha de
cosméticos, a BOOM! By Cindy Joseph, cujo lema é “próidade e não
anti-idade”. “Buscar parecer mais jovem me soa como desespero. A
aceitação e a celebração da idade que temos nos torna atraentes”, diz.
Veja o que mais ela contou a BONS FLUIDOS, por e-mail:
BF: No dia em que você assumiu seu cabelo grisalho, foi convidada para ser modelo. Como se sentiu?
CJ: Maravilhosa. Eu senti que o universo estava me recompensando por deixar o meu cabelo grisalho aparecer e luzir.
BF: E por que tomou essa decisão?
CJ: Porque eu queria aparentar a minha idade e mostrar
para os outros que o envelhecimento e o cabelo grisalho podem ser
cheios de estilo e bonitos.
BF: Como se sente por se livrar das tinturas?
CJ: Ótima! A liberdade é maravilhosa. Seguir e honrar meus desejos é sempre a melhor opção.
Fonte: Casa.com.br
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós!
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