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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Elas não têm medo dos cabelos brancos!

 
Assumir os cabelos brancos expõe o corpo tal como é, encarando o que nos está a acontecer a todos: envelhecer. Falámos com mulheres que tomaram essa decisão e não querem voltar atrás. 

Nos últimos anos afirmou-se várias vezes que o cinzento é o novo preto. Os mais de 50 tons de cinzento estão na moda não só na roupa, mas também no cabelo. Rihanna, Cara Delevingne ou Lady Gaga adotaram a certa altura os cabelos brancos. Pela internet, a hashtag #grannyhair revela milhares de mulheres jovens que descoloraram ou pintaram o cabelos de branco, sem que isso tenha feito delas avozinhas.

É um paradoxo fácil de perceber que os únicos cabelos brancos que não estão na moda sejam os naturais, aqueles que aparecem com a idade (ou não), os que não se escolhem como e onde devem aparecer: o ideal é a juventude e, em alguns casos, o cabelo é o primeiro a lembrar-nos que o tempo continua a correr, o futuro e a velhice são inevitáveis. “E então?”, perguntam as quatro mulheres que se seguem, entre os 45 e os 64 anos. Todas elas assumem os seus cabelos brancos de olhos fixos no inegável cronómetro e desafiadores para a sociedade. Não são invisíveis, como diz o mito das mulheres de cabelos grisalhos; pelo contrário, toda a gente repara nelas.

Mantêm o cabelo assim porque é bonito, porque não têm tempo ou dinheiro para a manutenção de um cabelo bem pintado, porque querem levantar o queixo e dizer que estão presentes como são, sem pedirem desculpas. Para todas foi uma escolha que lhes libertou a cabeça de quaisquer pressões e que nos permitiu falar do que é estético, político e da velhice.

 Luísa Falcão, 45 anos, professora de matemática

Quando teve os primeiros cabelos brancos?

Com 14 anos. Era só um ou outro, nada de especial. Começou por aqui [duas madeixas à frente] todo por igual, mesclado. Normalmente aparece uma madeixa aqui, outra ali, e fica feio. A mim não, foi todo por igual, tive sorte. Vou-lhe dizer: se não fosse assim, provavelmente pintaria o cabelo.

Não conhecíamos a entrevistada e poderíamos desencontrar-nos, mas ela deu-nos um conselho precioso e óbvio: “Quando chegarem, sou a única de cabelo todo branco”. Luísa Falcão fala sempre com um enorme sorriso do cabelo que nunca foi um problema, embora reconheça que é preciso personalidade e alguma coragem para o usar. Nenhum antecedente na família fazia prever que teria a cabeça imaculadamente branca e apenas os cabelos junto à nuca escuros.

O facto de aparecerem aos 14 anos incomodou-a?

Não porque se falava no assunto com graça. Depois passei por várias fases: lá para os 20 pintei, fiz madeixas, fiz tudo.

Por causa dos cabelos brancos?

Não, coisas da idade. E quando engravidei da minha primeira filha [aos 26 anos] nunca mais pintei.

Porquê?

Já tinha alguns brancos e percebi que se fosse por esse caminho tinha de pintar de 15 em 15 dias. Tendo uma filha já era complicado ter tempo para tratar de mim e ir de 15 em 15 dias ao cabeleireiro não era mesmo aquilo que eu queria. Era morena, tinha o cabelo preto azeviche, muito escuro mesmo. Mas nunca me custou… Quer dizer, não é bem assim. Quando casei pintei o cabelo, por exemplo. Mas depois comecei a achar graça porque é alvo de comentários, as pessoas vêm ter comigo na rua e perguntam-me o que faço ao cabelo. No início achava um bocado estranho, mas respondia sempre que não faço nada, que é natural. Agora já sei que quando alguém vem ter comigo e me diz “posso fazer-lhe uma pergunta?”, respondo logo “é meu, é natural, não pinto”. No estrangeiro então acontece muitas, muitas vezes. No cabeleireiro também me acontece. Dizem: “quero umas madeixas iguais às daquela senhora”.

"Agora já sei que quando alguém vem ter comigo e me diz 'posso fazer-lhe uma pergunta?', respondo logo 'é meu, é natural, não pinto'.

Luísa Falcão 
As pessoas são sempre elogiosas?

Nunca ninguém me falou negativamente do cabelo. Quer dizer, os meus filhos andavam na escola, tinham três ou quatro anos, e os colegas diziam-lhes que vinha a avó buscá-los. É um grande contraste e por isso também me acontecem coisas engraçadas, por exemplo, passar por uma criancinha e ela ver-me de costas e depois olhar para a minha cara e ficar a olhar, porque acha que há ali alguma coisa que não joga bem: cabelos brancos com um ar jovem, sem rugas. Por isso, acho que enquanto os miúdos forem tendo esta reação acho que é bom.

Os alunos reagem ao seu cabelo?

Impõe algum respeito, é bom [risos]. Agora já não tanto, porque já sou mais velha, mas dava um certo jeito.


Com que idade ficou com o cabelo todo branco?

Deixei de pintar com 26 — eram madeixas e fui eliminando progressivamente. Em momento algum foi problemático. Fiquei com mais cabelos brancos do que pretos aos 30.

Como via o seu cabelo aos 26?

Gostei sempre até por ser alvo de conversa e em qualquer lugar sou facilmente identificada. Como é todo liso, ainda chama mais à atenção. É uma opção, gosto. Já me passou pela cabeça pintar, depois disto tudo. Houve uma altura em que vinha para casa e pensei: “vou ao cabeleireiro pintar o cabelo, fazer madeixas, pelo menos”. Entrei, estive à espera, disse à cabeleireira que era para pintar, “desta vez vou mesmo fazer madeixas, estou decidida”, e enquanto estava à espera houve uma pessoa que veio ter comigo e disse: “O seu cabelo é tão bonito, como é que faz? Eu quero fazer igual”. Então pronto, não foi dessa e nunca mais me passou pela cabeça.

O que diziam as pessoas da sua idade?

Era a única, fui sempre diferente, sempre identificada por ter o cabelo branco. É uma maneira de ser diferente. Eu sei que o cabelo branco pesa, dá um ar mais velho, mas não era por isso que eu o iria pintar. Eu tenho noção de que a coisa por enquanto ainda fica bem, a cara ainda não corresponde muito ao cabelo, não há assim muitas rugas, mas mesmo sabendo que vou ficar mais velha, que vou ter rugas, não tenho intenção de pintar.

"[Os meus filhos] nunca se importaram com aqueles comentários de 'está aí a tua avó para te levar'. Nem o meu marido, nunca me pediu para pintar o cabelo. Nunca, ninguém. Também acho que se me pedissem, não o fazia."

Luísa Falcão 
O mais comum é eliminarem-se os cabelos brancos quando aparecem. Nunca sentiu nenhuma pressão para o fazer?

Antes pelo contrário. Mesmo no cabeleireiro dizem sempre para não o fazer. Isto é uma opção minha, assumir aquilo que é meu, assumir os meus cabelos brancos com orgulho. Ainda esta semana entrei na reunião dos encarregados de educação dos meus filhos e estava uma senhora que devia ser da minha idade com o cabelo todo branco e a primeira coisa que me apeteceu dizer-lhe foi “tem um cabelo muito bonito”. É uma espécie de irmandade, somos diferentes.

E já alguém se inspirou em si e lhe seguiu o exemplo?

Já, bastantes, mais velhas do que eu. Algumas não conseguiram, porque durante a transição… é complicado porque pintam e as raízes começam a aparecer. Quando se toma esta opção de deixar os brancos crescer, há ali uma fase que deve ser muito complicada e a pessoa não resiste e acaba por pintar.

E nunca conseguiu converter uma amiga mais nova?

Não. Não é converter… Com estas colegas que queriam deixar de pintar o cabelo eu nunca lhes disse nada, foi opção. Olhavam, gostavam e queriam também. Eu acho que havia muita gente que queria ter o cabelo assim, mas não consegue porque passa por aquela fase que é mesmo muito feia.

Acha que vai manter o cabelo branco no futuro?

Sim, vai ser sempre assim. Já é assim há quase 20 anos, e vai ser sempre assim. Já pus uma peruca — só para brincar — e fico muito, muito esquisita, não sou eu. Saí mesmo à rua e não era carnaval.

Deixou de ter pessoas a olhar para si.

Eu tenho consciência que [o cabelo branco] dá nas vistas e é motivo para se falar. Se for com o cabelo preto fico igual a toda a gente. A intenção não é receber olhares por ter o cabelo branco, sinto-me bem com ele assim, mas acho piada vir alguém tocar-me nas costas e pedir desculpa, perguntar porque é que eu tenho o cabelo assim.

Os seus filhos sempre a conheceram assim. O que é que dizem?

Sim, e de peruca estranham, não acham graça. Nunca se importaram com aqueles comentários de “está aí a tua avó para te levar”. Nem o meu marido, nunca me pediu para pintar o cabelo. Nunca, ninguém. Também acho que se me pedissem, não o fazia.

Fonte: Observador

"Amai, honrai e servi a Maria Santíssima" (São João Bosco)

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