Sermão para a Festa de Pentecostes
04.06.2017 – Pe. Daniel Pinheiro, IBP
Ave Maria…
No dia de Pentecostes, 50 dias após a Páscoa, comemoramos a descida do Espírito Santo sobre Nossa Senhora e os Apóstolos, que, obedecendo à ordem de Cristo, perseveravam na oração no Cenáculo em Jerusalém. Todavia, devemos sempre nos lembrar que as festas da Igreja não são meramente uma memória do passado. As festas litúrgicas da Igreja, ao comemorarem os mistérios, nos transmitem a graça própria de cada mistério. Vimos, na Ascensão a graça de nos fazer ter os olhos no céu, o desejo do céu, da santidade, da perfeição.
A graça própria de Pentecostes é, sem dúvida, o amor a Deus. E um amor com vigor. Antes de Pentecostes, não tinham ainda saído os apóstolos para pregar o Evangelho. Depois de Pentecostes, repletos do Espírito Santo, São Pedro, em um só discurso, converte e batiza 3 mil. O amor a Deus cresce muito, bem como o zelo pela salvação das almas. E fica diminuído o temor, o receio, o respeito humano.
Se o Espírito Santo é dado desde o batismo a cada um, Ele é dado em abundância no sacramento da Crisma, o sacramento da maturidade espiritual. O sacramento que faz de nós soldados de Cristo. A Crisma é, para cada um de nós, como um Pentecostes particular. Não se está dizendo que recebemos exatamente a mesma graça dos apóstolos. Evidentemente, não. Mas há certa semelhança.
Em Pentecostes, o Espírito Santo desce sobre os apóstolos com a aparência de línguas de fogo. O fogo tem luz e calor. A descida do Espírito Santo iluminou a inteligência dos apóstolos, esclarecendo melhor os ensinamentos de Nosso Senhor, fazendo que os apóstolos compreendessem melhor. Foi um aumento da fé dos apóstolos, no sentido de que passaram a crer nos ensinamentos de Cristo com maior firmeza. Essa é a luz do fogo. Mas o fogo tem também calor. O calor incendeia, aquece, e se espalha rapidamente. O calor incendiou a vontade dos apóstolos com o amor a Deus e com o amor ao próximo. Foi um aumento enorme da caridade dos apóstolos. E o Espírito Santo vem em forma de língua. Ora, os apóstolos devem comunicar a verdade e o bem aos outros. Nosso Senhor lhes deu esse mandamento: ide e ensinai a todos os povos. A língua significa que, conhecendo a verdade pela fé e amando a Deus e o próximo intensamente pela caridade, é preciso propagar a fé e a caridade aos outros, para que creiam em Deus e amem a Deus e ao próximo. Com essas graças do Espírito Santo, os apóstolos pregaram o Evangelho a toda a criatura. A voz deles, diz a Sagrada Escritura e a Igreja, foi ouvida em todo o orbe da terra. Com a força do Espírito Santo, confirmados por Ele, revigorados por ele.
Na Crisma, o Bispo, colocando a mão sobre a cabeça do crismando, unge a sua testa com o óleo do Santo Crisma, perfumado com bálsamo, e diz: eu te assinalo com o sinal da cruz e te confirmo com o crisma da salvação, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. A testa é assinalada, significando a iluminação da inteligência. O óleo significa a caridade, isto é, o amor a Deus e o amor ao próximo, que deve inflamar a nossa vontade. O bálsamo, que perfuma o óleo do crisma, significa a propagação da verdade e da caridade. O cheiro do bálsamo rapidamente se espalha, como devem se espalhar a fé e o amor a Deus. O sinal é marcado na testa, testa sempre muito visível, testa que não pode ser escondida, mostrando o vigor e a coragem que devemos ter para professar a fé católica e praticar a caridade, sem respeito humano, sem medo, sem temor.
Precisamente disso gostaria de falar: do respeito humano. Respeito humano que essa festa de Pentecostes deve nos fazer vencer. O respeito humano é a excessiva atenção ao que os homens julgarão ou dirão de nós, das nossas palavras e das nossas ações. O respeito humano é, como se vê pela experiência, um dos maiores inimigos da perfeição, e tanto mais prejudicial quanto mais universal é o seu domínio, pois não há lugar nem estado, sexo nem condição, onde não exerça mais ou menos a sua influência perniciosa. Penetra em todas as classes de indivíduos da sociedade, tanto no homem público como no homem privado, no rico como no pobre, no velho como no novo, no homem como na mulher.
O respeito humano age de duas maneiras: primeiro, executando alguma ação só para agradar aos homens e obter deles o julgamento favorável; segundo, deixando de praticar a virtude e o que a consciência dita para não desagradar aos outros. Aquele que se deixa levar pelo respeito humano injuria a Deus, porque coloca o juízo dos homens na frente do juízo de Deus; em vez de pensar no seu interior sobre o que julgará e que dirá Deus Nosso Senhor, só pensa no que julgarão e dirão os outros, convertendo, portanto, o juízo dumas miseráveis criaturas em norma suprema dos seus atos. E as palavras de Nosso Senhor são bem claras: O que se envergonhar de mim ou da minha doutrina, ou me negar diante dos homens também eu me envergonharei dele e o negarei quando vier a julgar o mundo na presença de meu Pai revestido da sua glória. Mas o Salvador diz também: aquele que me confessar diante dos homens, também eu o reconhecerei diante do meu Pai que está nos céus.
Não devemos claro, confundir o combate ao respeito humano com a falta total de respeito, com a falta de caridade e com o total desprezo do conselho dos outros. O juízo dos outros pode também ser justo. Não devemos é basear nossas ações em juízos contrários à lei de Deus. O respeito humano é aquele respeito que nos leva ao pecado, que nos faz omitir um dever ou que nos barra o progresso na virtude que poderíamos fazer. Não é respeito humano atender às ordens legítimas da autoridade legítima, por exemplo. Não é respeito humano evitar práticas de piedade muito peculiares, excêntricas e singulares na Igreja, por exemplo. Feita essa distinção, que podemos facilmente perceber, devemos vencer o respeito humano. Avancemos, preocupados com o juízo de Deus e não com o juízo dos mundanos.
Outro inimigo contra o qual devemos nos fortalecer é um inimigo interno. Com o nosso propósito de conversão, com o início da prática séria da religião, nosso interior, acostumado e inclinado ao pecado, se revolta. Vem, por vezes, um sentimento de tristeza por termos dito um adeus definitivo às loucuras e ninharias do mundo. Por ter dito adeus aos nossos pecados e vícios. Quando vier isso, tenhamos paciência. Essa tristeza e essa revolta passarão. E virão as verdadeiras alegrias. As vãs diversões se reapresentarão ao nosso coração, querendo que voltemos para elas. Voltaríamos a elas para perder a eternidade? Tendo colocado a mão no arado, não devemos olhar para trás. Procuremos esquecer essas coisas passadas. Devemos ter coragem. O caminho da perfeição é para os fortes. Para os fortes que se fazem forte com a graça de Deus, apoiados em Deus porque sabem que, por eles mesmos, são fracos.
Sejamos fiéis a essa graça que o Espírito Santo quer hoje nos dar: a força, a coragem contra o respeito humano, contra o inimigo interior, contra o velho homem, para que nos salvemos, para que propaguemos a fé e a caridade.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Fonte: Missa Tridentina em Brasilia
Vinde Espírito Santo!
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Que Deus os abençõe.
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