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quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Mulheres assumem os fios brancos cada vez mais jovens

Cultivar fios com essa tonalidade virou opção para as cabeças femininas. Capixabas assumem os cabelos grisalhos e contam suas histórias

Há um ano Karla Giaretta exibe os cabelos brancos: em caráter definitivo
Foto: Vitor Jubini
A mudança radical veio assim que Karla Giaretta voltou da lua de mel. Ela tinha 21 anos e queria fazer um corte no cabelo. Já no salão, o cabeleireiro fez um rabo de cavalo e passou a tesoura num comprimento enorme dos fios. Desde então ela aderiu ao cabelo curto. Mas a surpresa mesmo veio após dois anos: os fios começaram a nascer brancos. O que no momento foi um desespero, tempos depois se tornou uma libertação para Karla. Há um ano ela assumiu definitivamente os cabelos brancos. “Ele me deixou com uma aparência mais leve. Como tenho um rosto pequeno, combinou. Sempre fui na contra-mão da maioria das mulheres. Quando quase todo mundo usava cabelo loiro e longo, o meu era curto e preto. Assumi um grito de liberdade e deixei ao natural”, conta a designer de interiores.

Aos 47 anos ela carrega um cabelo curto num corte supermoderno. Mas para assumi-lo ela precisou se sentir segura. “Na primeira vez, quando cheguei em casa com o cabelo raspado, a minha filha falou: ‘O que você fez, mãe?’”, lembra. A aparência, no início, assustou muita gente. “A princípio as pessoas achavam que eu estava doente e tinham um olhar piedoso. Algumas pessoas, que sabiam que eu não estava doente, achavam que eu tinha estilo para carregar o cabelo. É algo que você tem que saber carregar”, diz.

A resistência ainda é grande. Mas, atualmente, o cabelo branco não é uma licença poética restrita às avós: cultivar tons prateados virou opção de muitas mulheres do Estado. No caminho oposto de quem insiste em afirmar que mechas grisalhas envelhecem, uma turma descolada (e desencanada) assume os fios brancos cada vez mais cedo. Com um detalhe: cheias de estilo.

A onda prateada é protagonizada por mulheres de personalidade forte, bem-humoradas e que têm um discurso pautado pela pacífica aceitação da passagem do tempo. Envelhecer como manda a mãe natureza virou um libertação.

Foi exatamente essa a sensação de Karla Giaretta. “Queria mesmo era me livrar da tinta. Sou uma pessoa hiperativa e ficar duas horas no salão para pintar o cabelo sempre foi inquietante. Ao me assumir fiquei mais livre. Mas é preciso ficar claro que, na essência da coisa, quero dizer que me importo muito mais com o que as pessoas têm por dentro”, conta ela, que atualmente só lava e corta os cabelos.

Mas essa decisão nem sempre é fácil, mesmo para as descoladas. “Os homens dizem que eu tenho que pintar. Mas boa parte das mulheres fala que queriam ter a minha coragem. Hoje não sei porque pintei o meu cabelo de escuro durante tantos anos. Estou adorando viver esse momento”.


Elegância
Os fios de Solange Resende começaram a mudar de cor em 2008, quando ela perdeu o irmão
Foto: Carlos Alberto Silva
Na Inglaterra, onde tintura não faz a cabeça das mulheres da família real, uma pesquisa apontou que 32% das britânicas apresentam mechas brancas antes de chegar aos 30. No Brasil, não há estudo recente sobre o tema, mas a moda das ruas acompanha a tendência internacional. A despigmentação capilar (que acontece devido à falta de formação de melanina) é associada à hereditariedade e a fatores como alimentação, problemas hormonais, hábitos como fumar e ingestão de bebida alcóolica em excesso, poluição e falta de hidratação capilar, explica o dermatologista Karina Mazzini. “Outro ponto é a exposição contínua à radiação solar, que ajuda no surgimento de radicais livres que comprometem a síntese de melanina”, diz.

A médica explica ainda que cada pessoa tem um ritmo e capacidade próprios de produzir a melanina. Por isso, o aparecimento do cabelo branco é mais influenciado pela genética do que pela cor da pele. “Podemos ver jovens que apresentam cabelos brancos enquanto outras pessoas com mais de 50 anos mantêm sua cor natural. Apesar de a cor da pele não ser um fator determinante, temos uma diferenciação na idade em que eles aparecem. Normalmente, as pessoas brancas começam a ter fios brancos depois dos 30 anos e negros a partir dos 40. Em geral, as pessoas passam a ter uma quantidade significativa de cabelos grisalhos após os 50 anos”.

Aos 63 anos, a advogada Solange Resende carrega uma linda cabeleira grisalha. Foi após ficar abalada com a morte repentina de um irmão, em 2008, que seus fios começaram a mudar de cor. “O ocorrido me abalou e meu cabelo caiu muito. Após me consultar com um dermatologista passei a tomar vitamina e os fios começaram a nascer brancos”.

Logo depois ela foi no salão que frequenta há 39 anos e o cabeleireiro deu o veredito que era preciso pintar. “Você é uma executiva”, argumentou. Ela rebateu: “Como não posso prosseguir assim? Não mexi e fui me acostumando. Nunca pintei para corrigir o branco”, conta.

A advogada conta que não se surpreendeu ao se ver pela primeira vez no espelho. “Minha reação foi tranquila”. Já a das amigas foi bem diferente. “Algumas falaram que, com esse cabelo, eu estava envelhecendo. Eu não concordo, olho o lado construtivo de que sempre estou tendo mais um dia de vida”, diz.

Solange é uma mulher elegante que gosta de conforto. Com tantas cobranças, ela diz: “Enjoei da escravidão da tintura. Ao longo do tempo fui vendo que meu cabelo é uma forma de afirmação é ratificação de quem eu sou. Mas é muita pressão, se não tiver firmeza a gente cede”.


Beleza aos 60
A empresária Marcia Bumachar decidiu assumir os fios esbranquiçados há apenas seis meses
Foto: Marcelo Prest
Ceder é tudo que elas não querem, pois se sentem muito bem do jeito que estão. Se na Europa é comum ver mulheres de cabeça branca, por aqui ainda não é comum. A psicóloga e especialista em felicidade Angelita Scardua explica que na cultura latina o atributo da mulher sempre foi a beleza. “É uma mentalidade machista, onde o que importa é ser bonita, ajeitada e ser jovem. Por isso, o cabelo branco está associado a envelhecimento, falta de vaidade e de atividade social. Ter cabelo branco afasta essa mulher do ideal de juventude. E isso pesa muito”.

A empresária Marcia Bumachar, 60 anos, decidiu assumir os cabelos brancos há apenas seis meses. “Assumir os cabelos brancos é sair da escravidão, é ter a liberdade de se mostrar como é, mostrar como o tempo a transformou, é aceitar os ciclos da vida e ganhar tempo e praticidade. Enfim, é a libertação dos padrões impostos”, conta.

Ela, que sempre teve cabelos escuros, passou por um processo de transformação. “Quando meus brancos começaram a aparecer, fazia intervenções com uma tintura da mesma tonalidade dos fios naturais. Mas sempre questionava: por que homens de cabelos brancos ou grisalhos são considerados charmosos e elegantes e nós para, mulheres, assumir a passagem do tempo é um atestado cruel da idade e sinal de desleixo!?”, lembra Márcia.

Ela não se descuida, tanto que continua indo ao cabeleireiro e redobrou os cuidados pessoais. “Cabelos brancos exigem um visual bem tratado para a mulher não ficar com a aparência desleixada. Depois que adotei meus fios brancos, naturalmente construí um exercício diário de carinho comigo mesma. Foi ótimo para minha autoestima”.


Fios brancos desde os 18 anos
Há quatro anos Karla Barros parou com a tintura e adotou as madeixas brancas
Foto: Fernando Madeira
Para Angelita Scardua, num mundo onde é valorizado a juventude e a beleza, a atitude de se aceitar é muito bacana. “O importante é a gente poder ser o que quiser, sem ter que disfarçar. Não existe um só caminho possível. O importante é não vivermos um policiamento estético. O importante é a pluralidade e diversidade”, ressalta.

Dona de alguns fios brancos desde os 18 anos de idade, a empresária Karla Barros já teve diversos tipos de cabelos. “Ele já esteve dourado, com mechas mais escuras, platinado e descolorido. E como os fios brancos começaram a aparecer cedo, comecei a pintar”, lembra.

Há quatro anos ela parou com a tintura e assumiu os fios brancos. “Me senti satisfeita, agi com naturalidade. Sou adepta de uma vida natural. Não uso pílula, fiz parto normal e acho que o cabelo tinha que seguir o mesmo estilo de vida”, explica.

Ela, que ficava nove horas no salão de beleza para descolorir os fios, aposentou as tinturas de vez. “Culturalmente o cabelo branco não é bem-visto. Mas gosto da imagem, é um estilo diferente. Vejo meu cabelo como estiloso. Mas todo mundo acha que faço luzes com mecha, que não é natural.”

Aos 38 anos, ela conta que ainda hoje tem pessoas que se espantam e dizem que ela tem que pintar. Mas nem liga. Para os cuidados, Karla usa xampu neutro e de cor branca. “O cabelo branco tende a ficar amarelado. O tratamento é parecido com o do loiro”, diz a mais nova das entrevistas. Mesmo sendo tão nova, colorir os fios está fora de cogitação. “Todas as vezes que pensei em pintar o meu marido pediu para continuar com cabelo branco. Ele me acha sexy assim, diz que demonstra que sou uma mulher corajosa e atraente”.
 
 Fonte: Revista.AG

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Que Deus os abençõe.
Obrigada

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