Sermão para o 3º Domingo da Quaresma
19.03.2017 – Padre Daniel Pinheiro, IBP
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Caros católicos, seguindo o nosso
propósito durante essa Quaresma, trataremos de mais uma virtude
aparentemente simples, mas bem importante: a pureza ou modéstia no
falar. São Paulo trata hoje, em sua epístola, da castidade. Diz o
apóstolo que nenhum fornicador ou impuro entrará no reino dos céus.
Pouco antes, ele diz: nem sequer se nomeie entre vós a fornicação, a
impureza, como convém a santos. E continua: nem palavras torpes, nem
parvoíces, nem chocarrices. Palavras torpes são palavras impuras,
palavrões, palavras chulas. Parvoíces são palavras tolas, idiotas.
Chocarrices são brincadeiras indevidas, piadas indevidas e, se envolvem
coisas indecentes, cairão também nas palavras torpes. O que nos
interessa hoje é tratar dessas palavras torpes, obscenas, impuras,
também palavrões.
Muitas vezes se desdenha dessas palavras,
dizendo que não têm muita importância, que há coisas mais graves com o
que se preocupar e que elas são ditas simplesmente por brincadeira. Já
na época de Santo Afonso se usava esse argumento. O Santo Doutor, farol
da moral católica, fala dessa linguagem ruim em seu sermão para o 11º
Domingo depois de Pentecostes, sobre as conversas e palavras
licenciosas. O Santo diz: “se o confessor os repreende, eles dizem que
falam essas coisas somente por brincadeira e sem a menor malícia.” O
próprio Santo responde a esse argumento dizendo: “Tenha em mente, pobre
insensato que você é, que essas brincadeiras indecentes fazem rir hoje
os demônios e que eles farão que você chore um dia no inferno.” E
continua o Santo: “não diga que você agiu sem malícia, pois é quase
impossível que você não seja nos seus atos o que você é nas suas
palavras.” E cita São Jerônimo que diz: “não está longe dos atos aquele
que se deleita nessas palavras.” São Sidônio Apolinário, Bispo de
Auvergne, na França, no século V, diz que é impossível encontrar um
homem imoral na linguagem e puro nos costumes. E São Bernardo diz que
terminamos por praticar aquilo que gostamos de ouvir (ou que gostamos de
falar, podemos acrescentar). Lembremo-nos da palavra do próprio Senhor:
“a boca fala daquilo que o coração está cheio.” O que falamos é
expressão de nosso íntimo ou vai formando o nosso íntimo. Alguém que
fala impurezas, obscenidades, palavrões, ou tem o coração cheio disso ou
está enchendo rapidamente o coração dessas coisas.
Um dos grandes meios para avançar na
castidade nos atos é parar de falar essas impurezas e obscenidades, que
são por si só um pecado e que conduzem a pecados ainda mais graves. Uma
das dificuldades para as pessoas vencerem os pecados impuros é
justamente a onipresença dessa linguagem baixa na nossa sociedade. No
ambiente de trabalho, nos meios de comunicação, nos escritos, em todo
lugar. Elas conduzem aos pensamentos impuros e aos atos de impureza. A
impureza que condena tantas almas… Por uma satisfação insignificante se
perde o céu, se merece o inferno, se ofende gravemente a Deus.
E se ao nosso redor falam coisas impuras,
palavrões, procuremos mudar de assunto, procuremos sair do ambiente.
Não devemos nunca ouvir voluntariamente a tais palavras baixas. Se mudar
de assunto e sair do ambiente for impossível, não demonstremos
aprovação alguma a essas palavras, por exemplo, rindo delas. Rezemos,
reparemos por essas palavras tão baixas, mas sem repeti-las. Nosso
apostolado e nossos deveres cotidianos devem ser feitos com palavras
dignas de um cristão, mesmo nos momentos que exigem maior firmeza.
As palavras torpes são um pecado. E, como
todo pecado, favorecem o reino do demônio. Elas podem ser um pecado
leve ou grave, isto é, venial ou mortal. A gravidade depende,
primeiramente, da gravidade da palavra em si. Em seguida, depende da
intenção com que é proferida e, finalmente, depende também do escândalo
que provoca (levando outros ao pecado). Deixemos claro que ainda que
sejam ditas somente com a intenção de brincar ou de chamar a atenção de
alguma forma, essas palavras não serão lícitas. E tenhamos consciência:
ainda que alguma palavra assim não seja um pecado mortal, ela vai
dispondo cada vez mais a alma para atos torpes, e o perigo de escândalo
ou de levar os outros ao pecado também é considerável. Basta conhecer um
pouco de verdadeira psicologia humana. Tais palavras ditas e repetidas
vão marcando a imaginação e facilmente a pessoa volta a pensar nelas ou a
representar-se tais palavras. A tendência é terminar consentindo nelas
interiormente e depois praticar atos de impureza. São Bernardino de Sena
conta a história de uma jovem que tinha uma conduta exemplar, mas que
ouviu (voluntariamente ou sem combatê-la de um modo sério) uma palavra
obscena de um jovem e teve logo maus pensamentos que a levaram a vícios
aos quais se entregou de tal forma que o próprio demônio, se tivesse
carne humana, não faria.
Que tristeza é ver um cristão proferir
palavras tão vergonhosas ou de alguma forma encontrar agrado nelas, por
exemplo, rindo. Ou proferir tais palavras por impaciência, por ira. Se
Deus nos deu a inteligência e a língua, é para falarmos coisas que nos
elevem a Deus, que nos edifiquem a nós mesmos e ao próximo, para falar
coisas boas, ainda que não somente religiosas. Em todo caso, nunca para
que falemos coisas que nos afastem de Deus. E, assim, São Paulo diz que
devemos falar ações de graças. Se Nosso Senhor diz que deveremos prestar
contas de toda palavra ociosa, quanto mais de uma palavra impura,
torpe. Sendo católicos, temos ainda muitos outros motivos para não
proferirmos coisas tão baixas. Vejamos. Somos batizados, somos membros
de Cristo. Cristo é a Sabedoria Eterna Encarnada, é a Palavra de Deus
que se fez homem. Sendo nós membros e discípulos da Sabedoria Eterna
Encarnada, não podemos usar a sabedoria e a palavra que nos foram dadas
para proferir coisas torpes, impuras, que A ofendem. Sendo católicos, é
na nossa língua que recebemos o Corpo de Cristo. Se a patena em metal
que recebe a hóstia consagrada na Missa deve ser revestida de ouro, sem
corrupção, quanto mais a nossa língua deve estar isenta da mancha, da
corrupção dessas palavras. Nosso Senhor nos dá o exemplo. Jamais usou
palavras torpes. As condenações de Jesus dirigidas aos seus inimigos não
são xingamentos, palavras baixas, palavrões. Afirmar o contrário seria
uma blasfêmia terrível. Seria dizer que Cristo nomeia aquilo que São
Paulo diz que um cristão não deve nomear. Nosso Senhor usa palavras
duras, mas honestas, e as utiliza com mansidão, justiça e caridade.
Palavras que, em aspecto algum, são palavras torpes.
Devemos abolir essas palavras baixas de
nosso vocabulário, ainda que algumas não sejam pecado mortal. Se por
hábito e sem muita advertência alguém proferir uma palavra impura, um
palavrão, deve fazer um pequeno ato de reparação e impor-se uma pequena
penitência, a fim de perder esse hábito pouco a pouco. Uma Ave-Maria,
por exemplo, ou invocar os nomes de Jesus, Maria e José. E mesmo se
essas palavras vêm somente na nossa imaginação, afastemo-las, rezando e
pensando em algo lícito.
Como diz São Paulo, que essas coisas nem
se nomeiem entre os cristãos, como convém a santos. São coisas
despropositadas. Sejamos filhos da luz, como diz o mesmo apóstolo,
filhos da Palavra Eterna, da Sabedoria Eterna. Que nossas palavras sejam
sábias, dignas de filhos de Deus.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Fonte: Missa Tridentina em Brasilia
São José, castíssimo, rogai por nós!
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