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quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Cabelo branco… porquê pintá-lo?

Cada vez mais mulheres, e mais novas, estão a assumir os cabelos brancos. Saiba porquê.


Cada vez mais mulheres, e mais novas, estão a assumir os cabelos brancos. Porque gostam da cor e porque é libertador. E aquele pre­conceito que os associa a charme nos homens e a velhice nas mulhe­res já não convence. Não acredita? Então conheça estas mulheres dos 30 aos 70 anos.

Tenho 42 anos e uma decisão importante para tomar: pin­to ou não pinto o cabelo? Já o fiz, há uns anos, quando me fartei do meu natural castanho-claro e me senti tentada a usar outras cores. Já os tive pretos luzidios, acobreados e até ruivos. Depois larguei a tinta e dei-me bem com a op­ção. Há mais de um ano que não ponho nada e nem pensaria pôr se não fossem os cabelos brancos que começam timidamente a povoar o meu território capilar. Tenho um modo rápido e eficaz de dar ca­bo deles: arranco-os, porque ainda é só um aqui, outro acolá. Mas quando forem 50, 100, 500, não mais poderei arrancar o mal pela raiz. Que fazer? Voltar a ir uma vez por mês ao cabeleireiro e dei­xar lá uma pipa de massa? Podia comprar a tinta no supermercado e aplicar em casa, mas o resultado seria o mesmo? Deixá-los brancos é uma hipótese a considerar, mas tenho receio de parecer mais velha. Consumida por este dilema, comecei a reparar que à minha volta, na rua, no metro, nos cafés, nas fotos do Facebook e no local de trabalho não faltam mulheres bonitas, com pinta e até mais novas do que eu, sem problemas em assumi-los. Será que também elas deram voltas e mais voltas à cabeça antes de os deixarem instalar-se? Nada melhor do que perguntar a quem de direito, a mulheres de cabelo branco en­tre os 36 e os 74 anos.

A primeira chutou-me logo para canto, como quem grita «mas que raio de pergunta é essa?». No entanto, o sentido de cooperação com uma colega de profissão puxaram uma resposta mais suave, mas igualmente desconcertante: «Porque é que havia de pintá-lo?», ques­tionou-me Diana Andringa, jornalista reformada, antiga presidente da direção do Sindicato de Jornalistas e investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES). «De facto, por­quê?», pensei. Quando se «poupa tempo e dinheiro» em tintas e cabe­leireiro, além de «se ser como se é», haverá razão para disfarçar o que a natureza nos impõe? Diana reforça a sua posição contrapondo com outra pergunta: «E há algum aspeto positivo em pintá-lo?»

Os primeiros brancos apareceram-lhe por volta dos 15 anos e já eram bem visíveis aos 24. No início, «quando eram maioritariamen­te castanhos, usava hena». Deixou de aplicar o produto quando os brancos eram mais do que os castanhos e o efeito da hena se perdeu, dando ao cabelo um tom laranja. Uma vez, ainda cedeu à sugestão da amiga e cabeleireira Odete Cordeiro, que a convenceu a experimen­tar outro produto. Diana usou-o e não gostou, por isso decidiu deixá-los como são, brancos. Desde que os assumiu, nada a demoveu. Nem quando lhe deram um bilhete de terceira idade num museu, antes de ter direito a ele. E nem o facto de ter trabalhado tantos anos na televi­são, onde a pressão sobre as mulheres para manterem a eterna juven­tude é mais acentuada do que nos homens, a convenceu. Na verda­de, Diana foi sempre indiferente à estranheza que algumas pessoas da RTP manifestaram quando resolveu adotar os cabelos brancos. E não estava sozinha nesta «luta» pessoal: como ela, outras profis­sionais do meio televisivo não tinham constrangimentos em exibir um belo cabelo alvo: «A Maria João Seixas apresentava um progra­ma e também o tinha branco.» Mas essa assunção era tão rara nas mulheres que «algumas até foram entrevistadas num programa apresentado, salvo erro, pela Clara Ferreira Alves».

Em termos de cuidados, a investigadora não faz mais do que lavá-los quase todos os dias e usar, de vez em quando, um champô adequado para cabelos brancos. O corte curto que já é a sua imagem de marca há vários anos é «muito prático», mas a verdade é que tam­bém lhe dá um visual moderno e isso, na opinião dos especialistas em cabelos, faz toda a diferença.

Há 35 anos a pentear e a tratar cabelos de mulheres e homens, com passagem pelo chamado Triângulo da Moda norte-americana – No­va Iorque, São Francisco e Miami –, o cabeleireiro Ulisses acha que «o cabelo branco nas mulheres tem um grande impacte, mas, sem o devido tratamento, o impacte pode ser negativo. Depende do corte e da atitude que a pessoa adota». Para Ulisses, o corte deve ser con­temporâneo e adequado a cada rosto, para não acrescentar anos de vida às mulheres.

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Os cabelos grisalhos da advogada e formadora Ana Machado Dias, 45 anos, do Porto, são a prova da eficácia dos conselhos de Ulisses. «Fa­ço cortes modernos e tratamentos com bons produtos para que não fiquem amarelos.» Esse é outro cuidado que os cabelos brancos exi­gem. No mercado não faltam champôs e cremes para «cortar o aspeto oxidado, amarelado», explica o cabeleireiro.

Dona de um farto grisalho pelos ombros, Ana não pode estar mais orgulhosa da sua imagem. «Gosto muito e não me imagino de outra forma.» Não se imagina agora. Quando era estudante universitária, deixou-se levar pela moda da hena «para ficar com um tom acobrea­do». Mais tarde, voltou a ceder: «Fui aconselhada por uma aluna a fa­zer madeixas loiras. Fiz e fiquei péssima. As madeixas não tinham na­da que ver comigo.» Nunca mais pensou pintar. Pressões, esta advoga­da e mãe de três filhos só voltou a senti-las em casa, da parte do filho mais novo, de 8 anos: «Diz que pareço uma velhinha e sugere que vá com ele ao cabeleireiro para o pintar.»

Será para fintar o aspeto envelhecido precoce que tantas mulheres pintam o cabelo assim que os brancos querem reinar? Ana não arris­ca uma resposta, mas faz notar que é a única do seu círculo de amigas mais próximas a usar o cabelho grisalho. À falta de estatísticas que fundamentem teorias, recorro à experiência de mais de trinta anos do cabeleireiro Paulo Vieira: «Há cada vez mais mulheres, e mais jo­vens, a assumir os cabelos brancos, mas a maioria pinta. Das minhas clientes, só vinte por cento têm o cabelo no tom natural e algumas acho que não vão aguentar, porque a pressão nas mulheres continua a ser enorme. Quase é proibido envelhecer. Não se pode ter rugas, celulite, cabelos brancos ou raízes brancas, o que é preo­cupante. Há muita pressão.» Em todo o caso, Paulo Viei­ra concorda que há brancos e brancos e nem em toda a gen­te ficam bem. Os de Ana cos­tumam atrair a atenção de outras mulheres, que não se cansam de lhe gabar os cabe­los grisalhos.

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O mesmo espanto nos ou­tros provoca o cabelo da em­pregada de escritório Lúcia Carulo. Aos 60 anos, esta alentejana de Beja costuma ser confronta­da com a dúvida, que muitas vezes roça a desconfiança, de amigos, vizinhos e de desconhecidos. «Muitas pessoas perguntam-me qual é a cor que uso e quando digo que não uso nada as pessoas não acredi­tam.» E até os entendidos em cabelos às vezes se iludem: «Uma vez, uma cabeleireira disse-me que pensou que o meu cabelo era pinta­do. Ficou admirada, porque nunca tinha visto uma cor natural como a minha.» Outras pessoas, menos incrédulas, abordam-na na rua só para lhe dizerem que «se tivessem o cabelo tão bonito também dei­xariam de pintar». Embora não sejam os elogios que a fazem manter o branco, Lúcia admite que é agradável recebê-los, porque só reforçam a decisão que tomou há dez anos: «Numa das idas ao salão para cobrir as raízes, re­parei que estavam mais brancas do que o habitual e achei que o bran­co era muito bonito.» Dessa vez e nas vezes seguintes, em vez de fa­zer madeixas, passou a cortar apenas as pontas.

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As razões por que estas mulheres assumem os cabelos brancos são meramente estéticas, mas todas reconhecem que a maior vantagem em não pintar é a sensação de liberdade. Ir ao cabeleireiro duas vezes por mês para cobrir as raízes não é rotina que as aprisiona. Se tives­se de o fazer, a designer de interiores Maria de Carvalho, de 36 anos, não se sentiria tão feliz. Para ela, que não tem paciência para andar sempre em salões, cabelos brancos é liberdade sim e é por esse moti­vo que nunca tentou escondê-los. Por essa razão e por gostar do que vê quando se olha ao espelho: «Como tenho a pele morena, o bran­co dos cabelos faz um contraste invulgar que me agrada. Uso-o assim porque gosto da cor, não é para agradar ninguém.» As reações nega­tivas dos outros nunca a influenciaram, muito menos num dos dias mais importantes da sua vida: «Quando casei já tinha o cabelo bran­co e isso parecia estranho numa noiva jovem, mas não liguei porque, mais do que em qualquer outro dia, no dia do meu casamento eu que­ria sentir-me bem, queria ser eu.»

Manter a cor natural do cabelo é uma questão de identidade para as mulheres que enjeitam as tintas mas, por ser ainda pouco frequente nas mulheres jovens, há quem não resista a interpelá-las. Conta Ma­ria: «Uma vez, uma funcionária de uma loja disse-me a medo: “Senho­ra, desculpe-me a intromissão, queria só dizer-lhe que acho o seu ca­belo lindo.” Outra senhora, com uns 50 anos, virou-se para mim num supermercado: “Nós somos mesmo giras, ficamos bem com o cabe­lo assim e não somos como as outras que não assumem os cabelos que têm”.» E há pessoas que nada dizem por palavras mas dizem tudo pelo olhar e pela expressão do rosto: «Olham para mim indignadas, como se dissessem “Credo, como é capaz? Como se atreve?”.»

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Quando se coloca o próprio bem-estar acima de todos os comentá­rios, a opinião dos outros pouco ou nada importa. É assim que se po­siciona na vida a arquiteta paisagista Alcide Gonçalves, que diz obe­decer a um critério que é quase um decreto: «Sentir-me bem comi­go.» Sentir-se bem é não ter que se sujeitar à obrigatoriedade de uma manutenção frequente. «Desde sempre me desagradou a ideia de ter de ir ao cabeleireiro uma vez por mês. Implica certos custos e não te­nho paciência. E também acho inestético um cabelo pintado desbo­tado ou com as raízes à mostra.»

Faz-lhe tanta impressão o aspeto artificial das tintas que não hesitou em parar de vez com as nuances, ainda que estas fossem da cor-base do seu cabelo, castanho-claro: «Quando as nuances co­meçaram a ganhar mais espaço do que deviam, não gostei. Pare­cia que tinha o cabelo pintado sem ter.» Isto, há seis anos. Desde então, assumiu os matizes naturais que lhe começaram a despon­tar aos 27 anos e hoje, aos 45, nem quer ouvir falar de outras possi­bilidades. «É muito estranho imaginar-me com uma cor que não seja a minha. É estranho ao ponto de ter reagido mal quando, no meu cabeleireiro, me sugeriram pintá-lo de louro.»

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Quem também exibe com orgulho os seus cabelos brancos é a ex-jornalista e tradutora de inglês Maria João Aguiar. Mas nem sempre foi assim. Os primeiros brancos surgiram-lhe depois dos 40 e, durante bastante tempo, tentou prolongar o castanho total disfarçando a nova cor com rinçages colorantes. À medida que o branco se tornava predominante, Maria João preparou a transi­ção para o natural. E se hoje, aos 74 anos, tem um cabelo de fazer «inveja a algumas contemporâneas que não têm a coragem de dar o mesmo passo», lembra que nem sempre foi fácil deixá-lo bran­quear: «Tive uns meses exasperantes, em que o cabelo parecia mal cuidado. Entristecia-me bastante. Até passei a ir mais vezes ao ca­beleireiro para ter um aspeto menos desleixado. Esse período foi tão difícil que não tenho coragem de o confessar às minhas ami­gas para não as desmotivar. Elas dizem que se conseguissem ficar com o cabelo assim numa semana fariam o mesmo.»

Maria João também quis evitar falar-lhes da tendência para fi­carem amarelos. «Este é o único problema. Existem champôs que cortam essa tonalidade, mas no verão, com o sol, é impossível o amarelo não dar o ar da sua (des)graça.»

Os aspetos mais positivos de se assumir os cabelos brancos podem ser diferentes para cada uma das mulheres, mas há um que é comum a todas elas – conviver bem com a inevitabilida­de do envelhecimento, independentemente da idade que têm e da idade que aparentam. No caso de Maria João, a aceitação es­tá também alicerçada num marido que aceitou a ideia tão natu­ralmente quanto ela: «Acho que devo ao meu marido o ter feito a transição de uma forma tão tranquila. Ele também está todo branquinho, barba e tudo.»

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Foi também sem sobressaltos que Ana Câncio, reformada da ban­ca, deixou de fazer madeixas para uniformizar o tom grisalho que começou a evidenciar-se quando tinha 30 anos. «Aceito bem as mi­nhas “menos -valias” físicas, convivo bem com o que sou, e os cabe­los brancos fazem parte.» Assumir o cabelo grisalho na idade em que o fez, aos 40, pressupunha aceitar a ideia de um envelhecimento precoce, mas também uma outra, «a de que somos todos diferentes e o meu cabelo grisalho podia ser uma diferença positiva». Tão po­sitiva que não concebe «mudar de castanho caju para ameixa qual­quer coisa e daí para louro californiano». Mais: agora que os cabelos brancos se adequam mais à idade que tem, 56, Ana acha que se sen­tiria «ridícula» e a trair as suas convicções se o pintasse.

Com estes argumentos, quase me sinto tentada a dizer que te­nho o dilema resolvido, não fosse aquele paradigma chato e injus­to que associa os cabelos grisalhos num homem a sedução e char­me, e numa mulher a velhice ou desleixo. Mas talvez Ana tenha razão quando diz que o paradigma está a mudar, não sendo tão marcado como há vinte ou trinta anos. «Eles hoje já pintam os ca­belos brancos e elas começam, cada vez mais, a ter a coragem de os assumir. De resto, aquilo que pensam de nós é muitas vezes só o espelho da nossa autoimagem, não é?»

Carla Amaro
Fotografia: Gerardo Santos/Global Imagens Produção: Fernanda Brito Maquilhagem: Marta Cruz e Fernanda Brito com produtos Clarins. Cabelos por Beto para Secret Look.

Fonte: Magazine

Um comentário:

  1. Para um grisalho bonito, exige-se os mesmos cuidados qu uma tinta exigiria. Uso de bons produtos, aplicação de desamarelador e por aí vai. Assim, não vejo tanto sentido em deixar de pintar para ter mais liberdade, a rotina de cuidados e aplicações é a mesma. Se a pessoa não cuidar, o resultado é justamente aquilo que nenhuma mulher quer: um visual descuidado sinalizando uma falta de vaidade.

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