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Maio 08, 2018
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Uma leitura espiritual para alimentar sua alma de amor a Maria
As
maravilhas da devoção a Maria não podem ser explicitadas inteiramente
por nenhuma análise. Nenhuma descrição, nenhum raciocínio pode dar dela
uma idéia adequada…
Razões e analogias ajudam a compreender
Um jovem teólogo – M. Neubert – analisa as razões, ou melhor, as
analogias de ordem natural que nos ajudam a compreender o sucesso ou a
eficácia da devoção a Santíssima Virgem. Pois a devoção a Nossa Senhora
leva todos a bom êxito. Constitui um axioma católico que Ela é para todo
mundo um meio seguro de santificação.
A razão fundamental disso, a única razão evidente, é sem dúvida a
vontade de Deus. Tendo Deus querido dar-nos Jesus Cristo por meio da
Virgem Santíssima – diz Bossuet – esta ordem não muda mais, e os dons de
Deus são irrevogáveis (cf. Rm 11, 29). Sempre será verdade que, havendo
recebido através dEla o princípio universal da graça, recebamos também
por seu intermédio as diversas aplicações desse dom em todos os variados
estados dos quais se compõe a vida cristã.
Mas, a par desta explicação teológica, sobrenatural, que examina as
coisas do ponto de vista divino, nada impede que se procure uma
explicação psicológica para confirmá-la.
Harmonia entre a devoção a Nossa Senhora e o progresso da alma
Quais são, em nossa natureza, as harmonias entre a devoção à Santíssima Virgem e o progresso de nossa alma?
Um primeiro fator de progresso humano é o esforço pessoal: o difícil é
induzir e sustentar o esforço da vontade. Nossa vontade é movida pelas
ideias, mas por ideias vigorosas que são ao mesmo tempo conhecimento,
sentimento e desejo. Ora, dessas ideias robustas, a mais forte é aquela
que se volta para uma pessoa amada. Quem ama voa, corre, alegra-se e
está disposto a tudo. Ora, ter devoção a Maria é amá-La, e amar Maria é
fazer o que Ela deseja e evitar o que Lhe desagrada.
Para quantas almas, por exemplo, o pensamento posto em Maria
constituiu a força pela qual triunfaram das tentações – de longe as mais
violentas e frequentes – contra a mais delicada das virtudes!
Encontramos uma confirmação disso numa experiência de ordem humana.
Um menino solicitado durante muito tempo pelas sugestões e argumentos
pérfidos de um companheiro perverso, acaba duvidando de seu dever e vai
deixar-se arrastar pelo mal.
Mas seus olhos cruzam-se com os de sua mãe: nesse mudo entreolhar,
ele sente a gravidade da ação que ia cometer e obtém a coragem de fazer
qualquer sacrifício para não entristecê- la.
Da mesma maneira, quantas almas assaltadas durante longo tempo e
estando a ponto de ceder, ao pensar em sua Mãe celeste, tão afetuosa e
amada, tão pura e desejosa de vê-las também puras, sentiram a tentação
desaparecer e uma força nova as armar contra o mal! Esse gênero de
vitórias costuma permanecer sepultado no segredo das consciências, mas
como elas são frequentes!
Forte contra as tentações, o pensamento posto em Maria é igualmente
eficaz para nos impelir na via do sacrifício. Não há santo cuja vida não
ofereça a esse respeito exemplos eloquentes.
Humildade e confiança em Deus
O esforço nos é solicitado por Deus, mas não basta. Ele não passa de
uma condição posta por Deus para recebermos a graça, a qual, entretanto,
nos vem unicamente dEle. Não devemos contar com nossos próprios
esforços, se quisermos que eles sejam coroados de êxito, mas sim com
Deus. Portanto, desconfiança de nós mesmos, ou humildade, e confiança em
Deus.
Ora, a devoção à Santíssima Virgem favorece de modo admirável esses dois sentimentos em nós.
Primeiramente, ela alimenta nossa humildade. Pode-se, sem dúvida, ser
humilde na presença de Deus sem invocar Maria; seria o caso, por
exemplo, de um protestante de boa fé para o qual invocar Maria é ofender
a Deus. Entretanto, também é certo que recorrer à intercessão de Maria
para ir a Deus, ir a Deus por meio de Maria, é reconhecer que não somos
dignos de ir a Ele por nós mesmos; é reconhecer nossa miséria, nossa
indignidade diante dEle; é fazer, mesmo sem se preocupar com isso, um
ato de humildade.Eis o motivo pelo qual São Luís Maria Grignion de
Montfort insiste tanto nas relações entre a devoção a Maria e a prática
da humildade.
Ademais, alimenta nossa confiança em Deus. Cremos na misericórdia
divina, mas com uma fé frequentemente teórica que, na prática, é exposta
a graves deficiências. Ora, nesses momentos escuros pensar em Nossa
Senhora constitui para nós um facho de luz que nos dá confiança.
Não por julgarmos que a Santíssima Virgem tenha um coração mais
misericordioso que o do próprio Deus, mas sim por ser Ela como um
argumento vivo que nos toca mais de perto e nos ajuda a melhor apalpar a
misericórdia divina. Assim como ver Madalena aos pés de Jesus nos faz
compreender a bondade do Salvador mais do que o faria uma idéia abstrata
de sua divina perfeição, do mesmo modo a contemplação de Maria nos faz
entender e sentir, melhor do que todos os raciocínios, a misericórdia
dAquele que nos deu uma tal Advogada e uma tal Mãe.
Sem devoção a Nossa Senhora, a religião fica tingida de racionalismo
Estas duas disposições – humildade e confiança – constituem o próprio
fundo do sentimento religioso. E é por esta razão que toda alma
religiosa compreende a devoção à Santíssima Virgem.
Uma alma que cessa de compreendê-la deixa de ser religiosa ou está
prestes a fabricar para si uma religião mais ou menos tingida de
racionalismo, tal como certos estoicos batizados que formaram sua
espiritualidade mais nos livros de moral dos estudos universitários do
que nos autores ascéticos. Para essas almas, o Cristo é mais um modelo
que posa diante delas, do que um amigo que vive nelas e as faz viver. Dia
virá em que, após inúteis esforços, elas reconhecerão por fim sua
radical fraqueza e se lançarão humildemente nos braços de Deus. Nesse
dia, elas começarão também a se voltar para a Santíssima Virgem.
Eis a razão pela qual tantas pessoas aos poucos deixaram de ter uma
religião e se contentam com uma simples filosofia: elas eliminaram a
devoção à Santíssima Virgem para irem mais diretamente – conforme
pensavam – a Jesus Cristo. Ora, perdendo de vista a Santíssima Virgem,
eles rapidamente perderam também a Jesus Cristo.
Diz o Cardeal Newman, em sua magnífica “Carta a Pusey” sobre o culto a
Nossa Senhora: “A Maria é confiada a guarda da Encarnação. Assim, se
olharmos para a Europa, verificaremos que as nações e os países que
perderam a fé na divindade de Cristo são precisamente aqueles que
abandonaram a devoção à sua Mãe, e que, por outro lado, os que mais se
distinguiram no seu culto guardaram a ortodoxia…”.
Traçando o mapa da devoção a Maria, teríamos traçado o próprio mapa
da expansão e da conservação da fé cristã, e isto não apenas no século
XIX nem a partir da Reforma, mas ao longo de toda a História da Igreja,
como concluirá o próprio Neubert em sua tese, no que toca aos primeiros
séculos cristãos, onde “em suma, toda a história das origens da
mariologia se apresenta como a história da defesa e da dilatação da
cristologia. A Mãe era a garantia do Filho, e a glória do filho começava
a jorrar sobre a Mãe”.
As grandezas de Maria só podem ser entendidas com relação à Encarnação
O Evangelho é a vida de família com Deus. Ele será chamado Emanuel:
Deus conosco, Deus nosso Pai, Jesus nosso Irmão Primogênito, vindo a nós
para nos encontrar e nos reconduzir ao Pai. Mas nunca compreenderemos
melhor quanto Deus é nosso Pai, senão pensando na doce Mãe que Ele nos
deu. E jamais compreenderemos Jesus como nosso Irmão Primogênito, a não
ser contemplando-O junto de Maria, nossa Mãe comum. E assim como não
devemos isolar Jesus de Maria, não devemos isolar Maria de Jesus.
Maria nos ajuda a compreender Jesus. Não é possível meditar os
privilégios de Maria sem melhor entender seu Filho, de quem e por causa
de quem Ela os recebeu. Mas, reciprocamente, só em Jesus podemos
entender Maria: Jesus é toda a razão de ser de Maria, e esta não seria o
que Ela é senão em vista da Encarnação e da Redenção. Exaltar as
grandezas de Maria sem mostrar suas relações com a Encarnação é fazê-lo
pela metade e dar a forte impressão de gente extraviada. Eis o motivo
pelo qual certos livros, certas tiradas sobre a Santíssima Virgem deixam
às vezes uma impressão de vazio, de insipidez ou de hipérbole. Jamais
correremos o risco de parecer hiperbólicos, ao falar de Maria, se
tivermos o cuidado de apresentá-La com seu Divino Filho. Mas querer
admirar Maria fazendo abstração de Jesus é coisa tão absurda quanto
extasiar-se com os esplendores da aurora num dia em que o sol esteja
encoberto por nuvens cinzentas.
Se quiséssemos passar em revista as virtudes cristãs e toda a
diversidade de nossos estados de alma e as fases de nossa vida interior,
poderíamos multiplicar indefinidamente os pormenores desses aspectos
psicológicos da devoção à Santíssima Virgem.
Resolvendo uma aparente objeção
Uma objeção, entretanto, se põe: não nos arriscaremos, assim, a tirar
desta devoção seu caráter divino e dar razão aos protestantes, os quais
pretendem que ela seja, não um dom do alto, mas um produto desta terra?
Ocorre exatamente o contrário, responde M. Neubert.
Uma tal adaptação da devoção a Maria a todas as nossas aspirações
religiosas é antes uma prova de sua origem divina: toda devoção é feita
para o homem, e quanto mais uma devoção responde às necessidades do
homem, mais ela tem chance de ser querida por Deus.
Aliás, esta objeção só pode afetar aqueles cuja devoção a Maria
sempre foi superficial. Os que verdadeiramente vivem desta devoção
percebem que não se pode, por uma simples análise psicológica, dar uma
explicação completa de seus maravilhosos efeitos, da mesma forma como
não é possível, pelas leis da luz e das cores, explicar o imponderável
inefavelmente belo e celeste que se vislumbra nos olhos de uma criança,
da mesma maneira como não se consegue, por meio da anatomia e da
fisiologia, explicar o amor de uma mãe pelo seu filho.
Algumas vezes, no momento de pôr-se o sol, o céu se cobre de nuvens
leves, quase transparentes, e margeadas por uma tonalidade rósea, como
nunca se vê no restante do dia. Depois, subitamente, essas nuvens se
entreabrem e o olhar mergulha maravilhado num mar brilhante feito de
ouro derretido, de um inigualável esplendor. Essa face voltada para o
sol é que explica a beleza da face inferior. O mesmo se passa com os
fenômenos religiosos. O psicólogo só pode descrever o que ele percebe na
face inferior, a face humana; entretanto, há uma outra face, a face
voltada para o Sol divino, e só esta pode explicar a beleza da face
inferior.
As maravilhas da devoção a Maria não podem ser explicitadas
inteiramente por nenhuma análise. Nenhuma descrição, nenhum raciocínio
pode dar dela uma ideia adequada…
(Tradução, com adaptações, de L´Ami du Clergé, 1911, pp. 682- 684 – in “Revista Arautos do Evangelho”, n. 89, p. 34 à 36)
(via Gaudium Press)
Fonte: Aletéia
Nossa Senhora de Fátima, rogai por nós!
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